Estava pronto para falar mais uma vez sobre minha história privada da infâmia, aqueles momentos em que tive atitudes ou disse coisas das quais me arrependo até hoje, mesmo que apenas eu (prefiro acreditar nisso) tenha me dado conta na época. Pretendia contar sobre um comentário que fiz sobre suicídio em um momento bem inadequado e, depois, silêncio constrangido...
Mas cheguei no hospital no começo da tarde e parei para tomar um café na Associação dos Médicos, e acabei me demorando um pouco mais porque a conversa estava boa, e confesso que saí contrariado, porque queria continuar. Ali é um lugar onde passo e muitas vezes me demoro diariamente, em encontros e conversas com colegas que foram meus professores, meus mestres e que agora são também amigos, o mesmo que acontece com os almoços de terça, quintas e sextas-feiras.
Nem sempre é assim, mas a conversa tomou o rumo do envelhecimento e morte. Relembrou-se Hemingway, ‘O Velho e o Mar’, e sobre como a leitura desse livro (e certamente quase todos os outros) muda com a passagem do tempo. O livro continua o mesmo, mas quem lê é outro, assim como o rio de Heráclito, que não se cruza duas vezes. Um dos interlocutores falou em determinado momento que estava em paz com a ideia da morte, e que esse pensamento lhe fazia viver intensamente o momento, o hoje. ‘Não se vive uma vez: vivemos todos os dias, só se morre uma vez’.
Eu disse, então, que não lido bem com a ideia da (minha) morte.
Certamente porque ainda sou muito novo para isso, não tenho o tempo de vida suficiente para estar em paz com a ideia do fim, ou não estou cansado da vida para estar tranquilo. Vai acontecer? Possivelmente, mas – imagino - ainda tenho um (longo, espero) caminho a percorrer antes de cansar. Ainda prefiro pensar que ‘temos todo o tempo do mundo’ e que ‘somos tão jovens’. E não tolero mais ter ‘tempo perdido’.
Filosofia em uma quarta-feira início da tarde.
Foi bom, mas fez desistir de falar sobre as minhas histórias de infâmia.
Até.
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