terça-feira, agosto 13, 2024

Os Afetos e os Aviões de Carreira

Pensamentos paralelos.

 

Não é uma novidade, isso de pensamentos paralelos, e me refiro aqui àquelas situações em que começamos pensando em um assunto/situação e acabamos em outro sem uma conexão clara com o assunto original. Vamos, pode-se dizer, saltando de um assunto para outro. É bem comum isso, comigo.

 

Estava-se falando de acidentes aéreos, e a conversa seguiu para segurança de voos, companhias aéreas, programas de milhas aéreas, lembrou-se da saudosa VARIG e comentei que quando fui para o “exílio da Sopa” no Canadá, que completa vinte anos na próxima semana, eu fui com milhas. E mais, a minha volta definitiva para o Brasil, minha chegada em solo brasileiro, foi justamente no dia em que os aviões da VARIG ficaram em solo, no final da história da companhia aérea.

 

Era 30 de junho de 2006, dia da eliminação do Brasil da Copa do Mundo da Alemanha. Meu voo era Air Canada de Toronto até Guarulhos, e VARIG de Guarulhos para Porto Alegre. Acompanhando as notícias dos problemas com a VARIG dias antes do meu embarque, e me antecipando a potenciais problemas em minha chegada, comprei – por garantia – uma passagem para Porto Alegre pela GOL. Eu tinha que ter certeza que chegaria em casa...

 

Quando cheguei em Guarulhos, naquela manhã de junho, assim que passei pela polícia federal, uma funcionária de companhia aérea me abordou e disse que eu havia sido realocado em um voo da TAM naquele mesmo dia, mas à noite. Respondi que não, que eu tinha uma passagem de GOL para aquele mesmo dia, mas bem mais cedo. Apesar de ter que pagar excesso de bagagem (era minha mudança de volta do Canadá), deu tudo certo. Não para a VARIG, infelizmente, e nem para a seleção brasileira, que foi eliminada naquela Copa.

 

Seguindo em meus pensamentos paralelos lembrei, então, da primeira vez que retornei ao Brasil após três meses morando no Canadá, e na dificuldade que a geração do meu pai, ele especial, tinha em verbalizar afeto. Tinha uma dificuldade imensa em falar sobre, fruto de uma criação diferente, de tempos diferentes, mas demonstrava em atitudes reiteradas vezes, de cuidado, de atenção, da maneira dele.

 

Falava eu daquela primeira vez que retornei ao Brasil.

 

Estavam no aeroporto todos: a Jacque, meus pais, meus cunhados e meus sobrinhos, com a minha afilhada Roberta ansiosa na frente de todos com balões de boas-vindas. Os adultos mais atrás, e ela na frente, esperando, mas foi só abrir a porta e eu aparecer vindo da área de desembarque que ele passou na frente de todos para ser o primeiro a me abraçar.


Não precisava dizer nada.

 

Eu sabia.


Até. 

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