Esses tempos, não faz muito, a polícia foi chamada para “prender” um morador de rua que havia matado e comido alguns cachorros num terreno baldio em um bairro de Porto Alegre. Chamada por moradores horrorizados com o caso. Os mesmo moradores que davam comida para os cães de rua e negavam o mesmo ao faminto “mendigo”.
Quando a polícia chegou e foi falar com ele, ele admitiu que tinha cozinhado e comido os cachorros. Por fome. Mesmo assim, foi levado e internado num hospital psiquiátrico. É loucura ter fome, pelo visto.
Pois é…
Eu comeria os cachorros, se estivesse na mesma situação.
E sem vacilar, podem estar certos.
A maior atrocidade do caso, para mim, foi o fato de alguns moradores terem ficado horrorizados com o fato e não com a necessidade de um homem matar cachorros para sobreviver. Ninguém se perturba com pessoas revirando o lixo para encontrar comida. Onde é que nós estamos?
É uma questão cultural, pelo visto. Se ele estivesse fazendo o mesmo que fez com uma, digamos, ovelha, não haveria todo esse escândalo. No máximo, seria preso por roubar a ovelha de seu dono, ou algo do gênero.
Lembrei disso depois de ver no blog da Luly, na segunda-feira, uma foto de um vendedor de churrasquinho na rua que com uma placa que anunciava: “Churrasquinho do Ceará de gato siamês – Criado na ração, nunca comeu rato”. Fiquei pensando sobre o anúncio.
Super-honesto, e bem adequado.
Os gatos que ele usava era criados em cativero com fins de abate. Como milhares de frangos, vacas, ovelhas, javalis, coelhos e até cavalos. Perfeito, provavelmente inclusive do ponto de vista sanitário. Não estavam contaminados por comer rato, se bem que se fosse ratos criados em cativeiro…
E os vegetais, ninguém fica chocado com o que fazem com eles?
Eu acho esses vegetarianos muito mais cruéis…
Até.
AMANHÃ: Um ano desde que saí do Brasil.