Um ano de Canadá.
Hoje como há um ano: céu cinza, chuva. Só que agora não mais perdido, não mais exilado de tudo. Em casa.
Muito aconteceu nesse ano de Canadá, e tenho registrado algumas de minhas impressões aqui neste blog. Logo que cheguei, ainda antes de comprar o meu laptop, (d)escrevi o que acontecia e o que eu sentia naqueles primeiros dias. Vou publicar hoje e amanhã o que escrevi nestes primeiros dois dias, o da saída do Brasil e o da chegada.
Foi logo que cheguei, e está impregnado por todas as sensações de desajustamento da chegada, aquilo que chamo de ‘Síndrome do Fantasma’: andar pelas ruas, as pessoas passam, ninguém olha, não há um rosto conhecido, não existem referências. Abaixo, transcrevo o escrito da saída do Brasil, em 19/08/2004.
Dezenove de agosto de dois mil e quatro
Depois de um ano e meio de expectativas, ansiedades, frustrações – “Acho que não vai acontecer” – e descrenças, e após várias despedidas (família, amigos, família de novo, outra vez dos amigos, família) embarquei no vôo RG 2328 até São Paulo e aí no AC 0991 até Toronto. Mas não embarquei sozinho.
A derradeira despedida de todos foi no aeroporto: os meus pais, os pais da Jacque, o Magno, o Márcio e a Sônia foram até la para dar um ‘tchau, até breve’. A parte difícil começou neste momento: ao passar pelo detector de metais e antes de entrar na sala de embarque, uma última olhada para trás. Todos abanando para mim, no último adeus. Confesso: bateu forte. E ainda faltava me despedir da Jacque, que ia comigo no vôo até São Paulo.
Foi um vôo cheio de emoções. Passamos o tempo todo abraçados, aproveitando cada instante antes de nos separarmos ao menos até dezembro, quando ela vem para passar o final de ano comigo. Nosso último momento foi quando ela embarcou na van que a levaria para o hotel em que ficaria para um curso. Nos despedimos, ela embarcou, e a última visão que tive dela foi seu vulto, através do vidro escurecido, abanando para mim, que abanava para ela.
Ali começou a cair a ficha. Senti o meu coração apertar, ficar pequeno dentro do peito, um vazio enorme tomou conta de mim, e me arrependi. Me senti um idiota por ficar longe da mulher que é tudo para mim, sem a qual nada mais importa. Mas não tinha mais volta… Embarquei no avião para o vôo que me manteria por meses longe da mulher que amo já com um enorme sentimento de culpa, que me acompanhou boa parte da noite, em que dormi sob o efeito de Dormonid...
Amanhã, o dia da chegada.
Até.