domingo, agosto 14, 2005

A Sopa 05/04

Sou obrigado a confessar: eu sou uma farsa.

Não dá mais. Pensei que poderia manter essa história toda por mais tempo, mas não consigo. Fui desmascarado, fiquei sem ter o que dizer, não podia mais sustentar a história. É hora de todos conhecerem a verdade.

O Marcelo não existe. Ou, melhor, não existe mais.

Tudo começou há quinze anos, na época do acidente de carro em que ele esteve envolvido. Ele não se recuperou totalmente e, por decisão conjunta dos médicos e da família, ele foi mandado para uma clínica de reabilitação num templo budista em Três Coroas/RS. Ali, além de fisioterapia zen, foi iniciado nos ensinamentos do budismo e acabou se tornando um monge. A última notícia que se teve dele foi que havia ido para o Nepal e que estava a caminho de ser o novo Dalai Lama, mas não pudemos confirmar a informação porque ele não atende o seu celular…

Quem sou eu que escreve e assina como ele, você deve estar se perguntando. Bom, meu nome verdadeiro – que já não uso há quinze anos – era Nestor. Confesso que gosto mais de Marcelo, apesar de não poder dizer “ao seu dispor’ após informar o meu nome. Como foi que tudo aconteceu?

Eu estava desempregado àquela época, e a proposta pareceu tentadora: substituir o Marcelo original por um período determinado. Quando o original decidiu não voltar para Porto Alegre, achamos melhor – eu participei da decisão – continuar com o teatro. Eu estava executando o meu papel realmente bem.

Passei então por uma cirurgia plástica e assumi de vez sua vida. Todas as pessoas que conheceram o “Marcelo” nos últimos quinze anos, na verdade não conheceram o Marcelo, me conheceram. Tudo o que ele fez, pensou, disse ou escreveu, tudo fui eu. As fotos, as viagens, a sopa de ervilhas, tudo criação minha. Nada vem do Marcelo. Ou vem, afinal eu sou o Marcelo, apesar de não ser ele. O narcisista burguês sou eu, e não o Marcelo. As pirações esquizofrênicas são minhas (e as vozes existem, juro!), e não do Marcelo. O pouco cabelo nós dois compartilhamos, mas é só. Mas se o Marcelo que vocês conhecem sou eu desde o início, então eu sou o Marcelo. O outro Marcelo, esse não existe mais.

Então ele não é responsável por tudo isso, estejam certos.

Ah, e quem pagou por toda essa operação de troca de identidade foi um carequinha, que eu nunca conheci pessoalmente. Parece que seu nome era Marcos Valério.

Que bobagem…

#


Dias dos Pais.

Há alguns anos, dei um presente para o meu pai que era, mais do que um presente, um símbolo do que eu pensava dele: um boneco do Superman.

Não preciso dizer mais nada.

Até.

4 comentários:

Anônimo disse...

hahahahahahahahhaha
eu ADOREI esse texto!

foi inspirado naquela teoria de que o paul mccartney teria morrido e um outro teria substituido e vivido a vida dele ate hoje...? ;)

meu pai ta longe, to com saudade. fiz um texto falando dele.

abraco e boa semana, nestor.

ops, marcelo :)

Luly :) disse...

Vc tem cada uma, Nestor!!!! Afff... que viagem!!

Bjocas

Anônimo disse...

Então...meu Deus...será que...Não, ENTÃO O IRMÃO GÊMEO DO MARCELO NUNCA EXISTIU? E aquilo tudo no Imbé? Eu já sabia do templo Budista, e tudo mais, até uma vez encontrei o Marcelo original no centro, de robe laranja, careca, ele me viu e fugiu. Mas eu sempre achei que este que escreve aqui fosse o irmão gêmeo...he eh ...e a gente enganava a gurizada direitinho.

Anônimo disse...

Esqueci de colocar no último comentário que fui eu, Vitor. Tchau, uma bitoca no teu nariz.