terça-feira, agosto 16, 2005

O copo e a água

Após longa caminhada, entrei no pub imaginário.

Sentados numa mesa perto do bar, estavam o otimista e o pessimista, observando um copo com água pela metade. De vez em quando, faziam comentários um para o outro, alternadamente. Aproximei-me da mesa e sentei.

Olharam-me por alguns instantes e voltaram a debater sobre o copo com metade de água. O debate óbvio era se ele estava meio cheio ou meio vazio. Argumentavam com entusiasmo juvenil sobre as implicações morais e perspectivas históricas das duas possibilidades. O pessimista de tempos em tempos dava de ombros e resmugava “Whatever”, o que fazia o otimista ficar mais empolgado com a discussão.

Mas não durou muito.

Depois de debaterem mais alguns minutos, o pessimista encerrou a discussão com o argumento definitivo: “Que importa se o copo está meio cheio ou meio vazio, se vamos todos morrer no final da história?”. O otimista o olhou sério, sem piscar, e desistiu. “Whatever”, disse, e deu de ombros. Tinha perdido, jogara a toalha.

Foi a minha deixa para entrar na conversa.

“Vocês estão discutindo o volume de água do copo. Isso é o mais importante? Eu mesmo respondo: não! O volume não importa! O que importa é o conteúdo, é sua essência: o gosto. Melhor, a ausência dele. Água é inodora e incolor. Água não tem gosto. Quando alguém diz que a água ‘está com um gosto estranho’ no fundo está dizendo que ela está com gosto! Aquilo que as pessoas sentem quando tomam água, e pensam que é o gosto dela, não o é. Aquilo é o não-gosto, a ausência de gosto, a negação do gosto. Já pensaram nisso? Vocês pod”

Não pude continuar porque os dois levantaram e se dirigiram à saída. A última coisa que eu ouvi eles comentarem entre si antes de me dirigir ao bar pedir uma cerveja imaginária foi “A gente tem que aguentar cada um por aqui…”.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nessa estoria eu faco o papel do pessimista...felizmente ou infelizmente.

Abracao!