Após longa caminhada, entrei no pub imaginário.
Sentados numa mesa perto do bar, estavam o otimista e o pessimista, observando um copo com água pela metade. De vez em quando, faziam comentários um para o outro, alternadamente. Aproximei-me da mesa e sentei.
Olharam-me por alguns instantes e voltaram a debater sobre o copo com metade de água. O debate óbvio era se ele estava meio cheio ou meio vazio. Argumentavam com entusiasmo juvenil sobre as implicações morais e perspectivas históricas das duas possibilidades. O pessimista de tempos em tempos dava de ombros e resmugava “Whatever”, o que fazia o otimista ficar mais empolgado com a discussão.
Mas não durou muito.
Depois de debaterem mais alguns minutos, o pessimista encerrou a discussão com o argumento definitivo: “Que importa se o copo está meio cheio ou meio vazio, se vamos todos morrer no final da história?”. O otimista o olhou sério, sem piscar, e desistiu. “Whatever”, disse, e deu de ombros. Tinha perdido, jogara a toalha.
Foi a minha deixa para entrar na conversa.
“Vocês estão discutindo o volume de água do copo. Isso é o mais importante? Eu mesmo respondo: não! O volume não importa! O que importa é o conteúdo, é sua essência: o gosto. Melhor, a ausência dele. Água é inodora e incolor. Água não tem gosto. Quando alguém diz que a água ‘está com um gosto estranho’ no fundo está dizendo que ela está com gosto! Aquilo que as pessoas sentem quando tomam água, e pensam que é o gosto dela, não o é. Aquilo é o não-gosto, a ausência de gosto, a negação do gosto. Já pensaram nisso? Vocês pod”
Não pude continuar porque os dois levantaram e se dirigiram à saída. A última coisa que eu ouvi eles comentarem entre si antes de me dirigir ao bar pedir uma cerveja imaginária foi “A gente tem que aguentar cada um por aqui…”.
Até.