terça-feira, julho 05, 2005

Mais notas sobre o Exílio

Por vários do meus escritos anteriores, posso ter dado a entender que esse tempo passado aqui no Canadá, que chamo carinhosamente de exílio, é algo extraordinário, único. Não é, evidentemente.

Todo o aspecto épico que eventualmente posso dar ao que vivo atualmente, é simplesmente isso, literatura. Ou, melhor, são apenas minhas próprias reflexões, meu universo interior dando asas à imaginação. Mais: são apenas a externalização do que sinto o que penso. Só.

A experiência de sair do seu país para morar em outro, com outra cultura, começar – sei de todas as limitações ao que vou dizer – uma nova vida a partir do nada, casa, trabalho, relações de amizade, etc, não tem nada de extraordinário. Já foi vivida por milhares de pessoas e ainda vai ser.

Todas as coisas ditas até aqui não passam de obviedades, “chover no molhado”, qualquer um sabe, assim como sabem que a grandiosidade disso tudo (aparentemente me contradigo) está naquilo que vou tirar dessa experiência para o resto da minha vida, pessoal e profissionalmente. As questões práticas, do dia-a-dia, são iguais a de qualquer um que esteja mudando de país sozinho para viver um tempo.

Isso para falar de um livro que estou lendo.

Em uma das minhas incursões de final de semana pelo bairro, mais especificamente pela livraria Chapters aqui perto, bati um olho num livro e não resisti, tive que comprar. O livro se chama “C’est la Vie” e a autora se chama Suzy Gershman.

Existe toda uma linha literária – digamos assim – de expatriados contando suas experiências de viver fora de seu país, livros e blogs aí incluídos.

Quanto a livros, um dos autores que já conhecia era o Tim Paks, um inglês que mora há mais de vinte anos na Itália, no norte, no Vêneto, pelo que me lembro. São dele os livros “Meus Vizinhos Italianos”, que comprei e li no Brasil (por isso sei que tem tradução para o português), em que conta como foi adaptar-se aos costumes locais, morando numa pequena cidade próxima à Verona, além de ‘An Italian Education’ (não li) e ‘A Season with Verona’ que comprei no aeroporto de Milão há alguns anos e que relata o ano em que ele acompanhou o time do Verona durante toda a temporada do campeonato italiano de futebol, viajando pela Itália para assistir os jogos e observando e tentando entender o jeito italiano de ser.

Na área dos blogs, um que gosto muito, por exemplo – e que coincidentemente fala da vida Itália (fixação minha?) – é o Carta da Itália, do Allan. Mas existem muitos, e de todos os lugares do mundo, e este Sopa no Exílio humildemente tenta estar à altura de ser considerado parte deste grupo.

Voltando ao livro, a autora conta a sua própria história: ela é jornalista e autora dos livros da série Frommer`s Born to Shop, em que dá dicas de compras de lugares do mundo, e Paris em especial. Pois bem, ela conta que sempre quis morar em Paris, e inclusive planejava morar lá com o marido quando os dois se aposentassem. Acontece que, quando estavam planejando passar um ano sabático lá, o marido descobre que está com câncer de pulmão e, entre o diagnóstico e ele falecer passam-se apenas seis semanas. Quando ele morre, ela decide, é a hora de ir.

Quatro semanas passam e ela vai para Paris para, em princípio, passar um ano. E ela conta no livro (que ainda estou lendo) todas as dificuldades e curiosidades de se estabelecer na cidade, no país, com uma língua diferente e outra cultura. E, ao ler, é como se estivesse lendo passagens do que eu mesmo escrevi, provando cabalmente que todos passamos pelas mesmas situações e sensações.

Até.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você é muito inteligente e tem uma profundidade de alma incrível...
Exílio é uma palavra que transcende seu significado primeiro...Eu também sonho com um exílio...numa terra distante...que me parece uma terra prometida...uma nova dimensão de coisas...Também quero guardar as experiências que um viajante, um exilado vive...Sonho em morar em London por algum tempo!
Muito legal seu blog...gosto dessa literatura que trata da experiência das pessoas se adaptando em seus "exílios"...Sou assíduo...aos blogs...

Wagner - São Paulo.