Brasil.
Desde que surgiram as primeiras denúncias de corrupção envolvendo integrantes do governo Lula, denúncias essas que foram se avolumando em termos de quantidade de informações e quantidade de dinheiro envolvido, sei que existem muitas pessoas no Brasil que estão felizes com o que aconteceu e, mais, alguns leitores desta Sopa que estão “se babando” de emoção e felicidade. E aguardando que eu diga alguma coisa a respeito ou, melhor, que não fale nada, ignore o assunto, com o intuito de defender “o meu partido”.
Comecemos, então com algumas prerrogativas básicas. Uma vez eu assisti a uma cerimônia de casamento judaica, e em outra a uma cerimônia numa igreja protestante. Quer dizer que por isso agora sou judeu ou protestante? Não, claro. Mas é com o mesmo tipo de raciocínio que as pessoas (não todas, eu sei) olham para quem vota ou votou alguma vez no Partido dos Trabalhadores. Votou, é petista. E esperam que “o petista” defenda com unhas e dentes “o partido”, afinal se votou é porque é.
Entendo esse comportamento, confesso, principalmente no que diz respeito a nós, gaúchos. Porque somos assim mesmo, maniqueístas nessas questões: chimangos ou maragatos, Inter ou grêmio, PT ou Não-PT. Não existe meio termo, não existem variações de cor, não existe o cinza, apenas o preto ou branco. Vermelho ou azul. Estrela ou não. E mais: se és de um lado, és anti o outro lado. Muitos torcedores do grêmio não o são na verdade, são é anti-Inter.
Voltando ao tema em questão, política, esse dualismo típico gaúcho (falo de onde conheço bem) ficou bem evidenciado nas últimas eleições, tanto para governador do estado quanto para a prefeitura. Nas eleições de 2002, fui voto vencido, e quem ganhou foi o governador Germano Rigotto, do PMDB. No ano passado, para prefeito, não votei porque estava aqui em Toronto, mas abri meu voto com muitos meses de antecedência: achava que o melhor era o PT não ganhar porque Porto Aegre estava precisando da saudável alternância no poder, já que o PT estava governando a cidade – com sucesso – há dezesseis anos.
No plano federal, a coisa é bem mais complicada.
O presidente Luis Inácio Lula da Silva só ganhou as eleições porque fez o PT se abrir às alianças com outros partidos, até de setores colocados bem mais à direita do que a maioria dos seus militantes gostaria. Foi uma opção pragmática: aliar-se e chegar ao poder para tentar colocar suas idéias em prática ou continuar na confortável cadeira da eterna oposição, dos eternos teóricos. Eleito, defrontou-se com dois novos dilemas: governo sonhado X governo possível e governabilidade.
Para o segundo problema, novas alianças…
Um grave problema do PT sempre foi a politização da máquina do estado. Um país, um estado, uma cidade ou mesmo empresa, para funcionar, devem ser gerenciados por técnicos em cargos técnicos, políticos em cargos políticos. O PT parece que acha que os seus militantes, só pelo fato de serem militantes, são mais preparados do que os outros. É um erro. Aconteceu quando foi PT foi governo do estado do Rio Grande do Sul, e aconteceu no plano federal.
Sejamos honestos, então: todos os governos fizeram isso, no Brasil.
Não é esse o ponto, contudo. As denúncias de corrupção são graves, devem ser apuradas, e os responsáveis devem ser punidos exemplarmente. Se forem graves a ponto de envolverem o Presidente da República da mesma forma que aconteceu com o ex-presidente Collor, que o destino seja o mesmo. Ou que o povo, nas urnas, diga que não quer mais o PT no governo, se esse for o caso.
Quem acreditou, por um segundo, que o PT era composto apenas por santos iluminados, foi ingênuo e deve realmente estar frustrado com tudo que está presenciando. O PT é um partido composto por seres humanos, e entre seres humanos sempre haverá alguns menos honestos que outros. Sempre foi assim, mas devemos sempre lutar para eliminar os desonestos e mau caráteres da vida pública, independente de cor partidária. Hoje é o PT? Eliminem-se os desonestos do PT.
Boa parte das pessoas que votavam (e votam) no PT o faziam não porque achavam que eles eram seres incorruptíveis e com virtudes acima dos outros, mas porque viam neles uma alternativa ao estado de coisas que vem governando no Brasil desde sempre, os Sarneys, os Jader Barbalhos, os ACMs da vida. O PT não é infalível, só não sabia disso quem não queria. O que eles vendiam era a esperança. Espero que não se perca isso, a esperança de dias melhores. Com PT ou sem PT.
Parabéns, Coronéis, vocês venceram outra vez.
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