terça-feira, julho 19, 2005

Muitas culturas (ou não)

Uma das primeiras coisas que me disseram quando cheguei no Canadá, e que já havia lido ainda bem antes de vir para cá, é que Toronto é a cidade mais multicultural do planeta.

Ao começar a conhecer melhor a cidade, a circular pelas diferentes regiões, andar de metrô, percebi que o que eu entendia por multiculturalismo não estava exatamente certo. Na minha visão, significava diversas culturas se integrando, formando uma nova cultura com características de cada uma das que a compõe. Ingenuidade minha.

“Multiculturalismo” é exatamente o contrário. É as pessoas, mesmo morando em outro país, manterem suas próprias tradições, e seu idioma. É positivo, nossas origens e tradições são importantes, eu sei, mas há o outro lado. Tudo bem que não percam suas raízes, seus costumes, mas ao mudar para um novo país, deve-se assimilar a cultura local, integrar-se ao way of life da nova pátria. E, aqui em Toronto (no Canadá, e em outros locais do mundo), isso não acontece.

Acaba-se – como em Toronto – como um mosaico de guetos, ou ilhas, convivendo num espaço próximo. As pessoas de mesma origem, portugueses, chineses, italianos, gregos, por exemplo, vivem numa mesma região, e o idioma mais comum ali é o da etnia do gueto, há rádios, jornais. Num exemplo mais extremo, há canadenses vindos de Portugal, morando aqui há mais de trinta anos, que não falam inglês! As novas gerações, claro, aprendem os dois idiomas, o nativo dos seus pais e o inglês, e é como se morassem num pedaço de Portugal (exemplo, de novo) na América do Norte. E esse fenômeno pode levar à incapacidade de criar raízes, ligações afetivas com o país.

Parte das causas dos atentados de Londres do dia 07 de julho pode ser explicada através dessa idéia. Sabe-se que os responsáveis por isso eram britâncicos, nascidos na Inglaterra, de pais paquistaneses. Ou seja, segunda geração de imigrantes. Ao que se sabe, todos se sentiam outsiders, estrangeiros no país em que nasceram. A falta de integração ao novo país está na gênese de tudo.

Pois é, talvez o multiculturalismo não seja tão motivo de orgulho assim…

Até.