Ainda sobre “multiculturalismo”
Inicialmente, eu não planejava seguir adiante nesse assunto, até porque nem sei ao certo se existe essa palavra, “multiculturalismo”, mas como – segundo a Mirella – “esse post vai dar o que falar”, decidi continuar refletindo sobre ele.
Já no domingo (escrevi o texto no sábado), a Monique, o Rafael e eu, após sair do cinema e ir a um pub, discutíamos isso, e eu antecipei a eles o que eu escrevi ontem, sobre o problema da integração dos imigrantes no novo país. E não só isso, mesmo os – no exemplo de onde estamos – canadenses filhos de imigrantes, ou seja, canadenses legítimos, afinal quem nasce aqui é canadense legítimo independente de sua ascendência, também se sentem de certa forma excluídos.
Mas não só isso: tanto no domingo quanto ontem, quando nos reunimos para bater um papo (nos conhecer, na verdade) o Carlos, o André, a Raquel, o Marcelo – meu atual e temporário roomate - e eu, todos fazendo pós-graduação na Universidade de Toronto, acabamos comentando sobre a ausência de uma comunidade brasileira em Toronto nos mesmos moldes da portuguesa, italiana, chinesa, etc. Porque a maioria dos brasileiros aqui – impressão minha – é estudante de inglês que vem ficar para um cuso de um ou mais meses, com uma parcela destes que acaba ficando aqui ilegal e trabalhando na construção ou como faxineiro.
Existem, claro, os imigrantes, mas esses não são em número suficiente para criar um comunidade organizada. Daí os brasileiros aqui (segundo ouvi) acabam “participando” das festas das outras etnias. No meio da festa italiana, tem barracas brasileiras, ou algo assim. Mas não é esse o ponto. Excluindo-se os ilegais, alguns que até nem sabem falar inglês, boa parte dos brasileiros procura se integrar realmente ao país. É uma qualidade brasileira, eu acho, mas evidentemente não dá para generalizar.
Isso de o brasileiro “se misturar”, era um ponto que eu queria falar, pretendia escrever numa possível segunda parte do texto para daqui mais tarde, mas o Allan tocou no assunto no seu comentário e resolvi falar nisso: a miscigenação.
Somos mestiços, e isso – ao contrário do que se pensa – é um ponto favorável. O “jeitinho brasileiro” tão mal visto pela conotação negativa que se deu a essa expressão, a flexibilidade, em suma, capacidade de adaptação, são pontos positivos. E isso vem da miscigenação. A ausência dos guetos étnicos, a grande salada geral que acontece no Brasil, aquela coisa de que “sou italiano por parte de pai e ucraniano por parte de mãe”, por exemplo, é o que leva à flexibilidade e até tolerância de que falava. Não podemos esquecer que essa coisa de pedigree é pra cachorro…
O que não acontece em outros lugares.
Quando falei em não se adaptar ao novo país, não me referia especificamente a ninguém, seguidores de Maomé, Cristo ou quem quer que seja. É um fenômeno geral esse.
E o Canadá não é essa maravilha toda assim como dizem.
Aliás, o Canadá é o único dos alvos anunciados pelo Bin Laden logo após o 9/11 que ainda – ainda – não foi atacado. Pois é, e essa discussão sobre o multiculturalismo existe. Toronto, por exemplo, é um lugar onde 44% da população é imigrante vindo de outros países. O que aconteceu em Londres – segundo alguns - pode acontecer aqui em Toronto, e pelas mesmas razões.
Mais: existem críticos do multiculturalismo que dizem que ele deveria ser abondonado em troca do conceito de integração, não apoiar a formação de guetos étnicos. O governo tem responsabilidade nisso, sim, ele é quem deveria informar a quem chega que aqui no Canadá – ao contrário de outros lugares do mundo – a religião não é o estado, e as leis são feitas por homens e não têm inspiração divina.
Talvez o governo – sim – tivesse que fazer uma força maior para integrar a todos, ou no mínimo deixar claras quais são as regras aqui.
Sei lá.
Até.
Um comentário:
Mais uma vez concordo com vc.
Soh que acho dificil o governo canadense fazer alguma coisa a respeito, isso eh praticamente tabu, o multiculturalismo estah na "fundacao" do Canada (eles falam disso ateh quando vc se preparar para o teste de cidadania).
Agora, se houvesse uma comunidade brasileira, eu nao me envolveria nela. Claro, nao me afastaria de vez, conheco vcs em Toronto e tenho duas grandes amigas brasileiras aqui em Windsor. Mas a minha opiniao eh que estou no Canada e pronto. E nao tenho planos de voltar a morar no Brasil. Entao pra mim nao faz sentido me isolar do resto do pais e me limitar a fazer tudo em portugues.
Apenas nao acho que os Canadenses isolam os outros. Eu acho que os outros imigrantes eh que se isolam. O povo aqui eh muito gentil e faz esforco pra entender alguem com ingles ruim, tenta ajudar, tenta aprender mais. No geral, neh.
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