terça-feira, agosto 30, 2005

A Volta (2)

Minha volta de New York para Toronto estava marcada para esta segunda no vôo das 7h. Como falei ontem, cheguei no aeroporto às 6h, embarquei e, duas horas depois, todos os passageiros desembarcamos pois o vôo tinha sido cancelado.

Longa fila, alguns conseguiram pegar o vôo das 8h45. Os outros, eu incluso, deveríamos ficar em stand-by para um próximo vôo com lugar. Alguns momentos passaram, e a mocinha do balcão disse que tinha seis lugares num vôo para Montreal que sairia em poucos minutos. Eu me voluntariei e pude embarcar. Só que fui o último.

O que quer dizer que quando tentei entrar no avião, minha bagagem de mão (tudo o que tinha levado para NY) foi rejeitada porque não havia mais lugar. Resmunguei coisas impublicáveis em francês e em inglês, e deixei a mala com a mala do comissário de bordo que garantiu que ela seria entregue assim que eu saísse do avião em Montreal.

Apesar de alguma turbulência, o vôo foi bem tranquilo. Ao chegar em Montreal, quase hora de embarcar para pegar a conexão, saio de avião e – adivinhe – a minha mala não está lá. Fico esperando, converso com a aeromoça, que fala no rádio e me informa que minha mala estará junto com as outras de quem as despachou. Resmungo novamente coisas impublicáveis, agora em espanhol.

Corro em direção ao terminal de embarque, mas tenho que parar pela imensa fila para passagem pela aduana. Suuuper-tranquilo e sorridente, chamo a mocinha que coordena a fila e pergunto para ela sobre a minha conexão, que está iniciando o embarque. Ela me passa na frente de todos, que provavelmente resmungam coisas impublicáveis em diversos idiomas, mas não estou nem aí. A funcionária aduaneira, super-simpática, verifica que meu visto expira em pouco mais de vinte dias. Explico a ela que já submeti os papéis para a renovação e estou aguardando resposta, informando a ela quando meus documentos chegaram em Vegreville, Alberta, quantos dias estão levando para processar os pedidos de renovação (51, dados de 22.08) e inclusive de qual data estão sendo processando agora.

Ela fica impressionada com o meu conhecimento de prazos e regulamentos, mas mesmo assim pede para eu passar no setor de imigração para eles conferirem meus papéis. Vou até lá, converso com a dona imigração, que me diz que está tudo certo mas que, a partir de 20 de setembro de 2005 eu preciso do novo work permit e de novo visto. Decido não dizer para ela que já tenho um novo visto, válido por dois anos, só que de visitor, porque aí eu realmente ia perder minha conexão.

Saio dali, ágil e veloz como um guepardo, e vou até o setor de malas: nada. Minha mala não está lá. Nem sombra dela, nem rastro, cheiro, nada. Resmungo coisas impublicáveis, em italiano. Lá vou eu, impávido que nem Muhamed Ali, tranquilo e infalível como Bruce Lee, até o setor de perda de bagagens da Air Canada. Converso com o funcionário, que não sabe informar nada. Não sou o único. Mais dois passageiros estão na mesma situação desde NY, agora sem suas malas. Decido dar um última verificada, e ela está lá, bem longe, parada num esteira imóvel e deserta.

Pego a mesma e volto ao balcão, já sabendo que já perdera a conexão. Tudo explicado, sou encaminhado ao setor de embarques domésticos (que não quer dizer que apenas assalariados que trabalham em casas de família o utilizem). Lá chegando, entrego o bilhete ao funcionário, que diz que perdi o avião. Não digo nada dessa vez, apenas fecho a mão e me preparo para o que virá. Sorrio, e penso coisas impublicáveis em árabe (ou o que eu imagino ser árabe, já que quem me ensinou estava bêbado e provavelmente o que penso ser um xingamento queira dizer “Sou um idiota, me chutem” ou “Alá é uma farsa e vocês não são de nada”).

Diz ele que, como “perdi” o meu vôo (eu?!), vou ficar em stand-by para o próximo. Explico para ele, calmamente, que EU NÃO PERDI O VÔO, A CULPA É DESTA PORCARIA DE COMPANHIA AÉREA QUE FEZ TODA A CAGADA E QUE, PARA O BEM DELES É MELHOR ME DAREM UM ASSENTO DE CLASSE EXECUTIVA OU ME PAGAREM UMA DIÁRIA NO HILTON PARA EU DESCANSAR E ME RECUPERAR DO ESTRESSE QUE O MEU DIA VEM SENDO ATÉ AQUI. Nãããão… é mentira. Eu não falei nada disso, não.

Quando ele disse que eu ia ficar em stand-by, eu decidi que era hora de tomar uma cerveja, comer alguma coisa, e relaxar.

Foi o que fiz.

Embarquei no primeiro vôo (seguinte ao que eu tinha perdido) e dormi até Toronto. Saindo do aeroporto, o ônibus estava esperando na parada, o mesmo com o metrô. Cheguei em casa dez horas depois de sair da casa do meu irmão. Quase o mesmo tempo de ir de ônibus.

Mas pelo menos posso dizer que já estive em Montreal…

#

A música de hoje, dentro da semana “9 anos de casamento” é a primeira música, temporalmente falando, que associo à Jacque porque ela vivia cantando quando começamos a namorar.

Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu pra você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais

Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível
Meu Deus é mais

Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nada
Que morre afogada por mim

Mistérios sempre há de pintar por aí



Até.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo:

Caracá, que saga essa tua volta hein?

A Air Canadá tá pior que a Varig!!

Abraços.

Edgard

Anônimo disse...

Meu filho,

Mas voce veio com Ala! hahahaha
(Nao me xinga em arabe que eu retruco em zulu!!! rsrsrs).

Bom que voce chegou bem.
Beijao