O Exílio, parte três.
A terceira fase do meu exílio, na verdade, compreende as duas primeiras, e temporalmente vai da minha chegada no Canadá, em agosto de 2004, até o início de dezembro do mesmo ano, quando viajei à Porto Alegre para a defesa da minha tese e, claro, rever todos. Foi a grande fase de chegada, adaptação e um primeiro retorno. Se caracteriza pelo silêncio.
Não qualquer silêncio. O Silêncio.
A vida como vivemos hoje, e isso é uma afirmação geral, é uma vida ruidosa. Tudo é som, barulho. O trânsito, com suas buzinas e sirenes, as pessoas, que falam alto o tempo todo, os sons das cidades, a televisão. Há momentos em que – mesmo que se queira – não se consegue fugir do barulho, do som que incomoda. A civilização moderna pode ser definida como a civilização do ruído.
Não estamos mais acostumados com o silêncio. Mesmo que a concentração, as reflexões, o desenvolvimento da filosofia, dependam de quietude, contrição até, estamos habituados a viver com o som, e alto (a surdez decorrente de trauma por volumes muito altos é uma epidemia que está se espalhando rápido). E nem percebemos isso. Até que encontramos 'O Silêncio'. Por tudo isso, é uma experiência pertubadora, e verdadeiramente válida.
Faz parte da fase inicial, enquanto ainda nos sentimos fantasmas (não conhecemos ninguém e ninguém nos conhece, pessoas passam por nós e é como se não existíssemos). Se a parte do fantasma já nos é estranha, a súbita percepção do silêncio que domina tudo assusta. Parece como se nunca houvéssemos experimentado a ausência de sons altos. Por instantes, é como se estivéssemos surdos.
E o que perturba mais é isso: temos amplificados e ouvimos mais os nossos próprios pensamentos. Aumenta a noção do eu. Momento egocêntrico, em que estamos como que isolados do mundo exterior e temos que conviver com esse estranho, esse mesmo que às vezes tem reações que nos surpreendem, espantam. Temos que conviver conosco mesmo. Não há como fugir. Encaramos o Mr Hyde que há em nós, experimentamos o lado negro da Força.
O resultado desse processo é maior auto-conhecimento, sem dúvida. É possível pensar e repensar tudo aquilo que quisermos, e queremos repensar muitas coisas, afinal o exílio - já que existe – também serve para isso. E o auto-conhecimento traz segurança, e nos puxa de volta para o caminho certo, além de torná-lo mais claro. Quando voltamos do silêncio, podemos andar em frente, seguir o curso da nossa história.
No meu caso, o silêncio acabou logo após a defesa da minha tese, quando tive o que podemos chamar de revelação ou a compreensão do significado de algumas coisas.
Mas isso é assunto para uma próxima Sopa…
2 comentários:
Gostei do "Elogio" so Silêncio, ao pensar, ao refletir... e o insight que se sucede. Bom ver vida inteligente na Blogosfera.
Hmmmmm... por isso que os posts eram mais introspectivos antigamente... ;o)
Gostei do programa de sábado, hein?! Passou a sensação de ser muito bom!
Bjo e boa semana!!
Luly :)
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