sábado, agosto 31, 2024

Sábado (e passaram 28 anos...)

31/08/1996
 

    Seguimos juntos, seguimos bem.
   
    Bom sábado a todos.
   
   Até.
  

sexta-feira, agosto 30, 2024

Bullying, ou não

Bullying é coisa muito séria.

 

Por isso não vou falar sobre isso.

 

Mesmo que o que aconteceu algumas vezes com muitos de nós durante o período escolar tenha sido isso, para o qual não havia à época um nome próprio, e era considerado como parte do processo de crescimento, e mesmo que tenhamos sobrevivido, ainda assim é algo grave. Porque nem todos tem a estrutura psíquica/mental para suportar, pelas mais variadas razões, e ninguém tem o direito de submeter quem quer que seja a algo assim.

 

Porque é crueldade.

 

Dito isso, quero falar de algo que fazemos entre nós, adultos e amigos, que chamamos de bullying, mas que, no fundo, não acho que seja. Ou talvez seja, mas estamos prontos para lidar com isso em caráter de igualdade. Fica a pergunta, então: isso o que fazemos entre amigos é bullying

 

Acho que não, apesar de chamarmos assim, porque – a meu ver – existe uma relação desigual de forças entre o agressor e o agredido (física e/ou emocionalmente) nos casos de bullying. O que não acontece nesses eventos internos que ocorrem entre turmas de adultos e amigos. Aliás, um sinal de afinidade entre amigos (em especial de uma determinada faixa etária - sim, nós os “velhos”) são as manifestações de apreço através do que – para quem não faz parte – pode ser considerado vocabulário agressivo. É natural em determinados grupos. E, pela qualidade de igualdade existente entre nós, sabemos que “a banca paga e a banca recebe”. Uma hora és o executor, em outra o executado. E está tudo bem, desde que haja o acordo entre todos.

 

Esses dias, aconteceu de eu fazer um comentário desses (com o potencial de ser considerado bullying) a um amigo e uma pessoa “de fora” ouvir e perguntar “quem, hoje em dia, diz tal coisa?”, no que respondi tranquilamente, sem nenhuma inquietação, que absolutamente ninguém, nenhum eu, fala uma coisa dessas. Como assim?

 

Porque, naquele momento, estávamos falando um dialeto próprio.


É isso.


Até. 

quinta-feira, agosto 29, 2024

Sobre civilidade, e a velhice

 Quero ser um velho ranzinza.

 

Já disse isso, mas um dos meus objetivos de vida é me tornar, com o passar dos anos, um personagem como o interpretado por Harrison Ford na série Shrinking, da Apple TV+, ou o de Sam Elliot em The Ranch, série da Netflix. Mal-humorado, “resmungão”, é onde quero chegar.

 

Enquanto isso não ocorre, contudo, sigo em minha jornada civilizatória.

 

E não tem nada a ver com politicamente correto, mas sim com a vontade/necessidade de ter mais leveza na vida, não me estressar com situações que não me dizem respeito, mesmo quando – de alguma maneira – interferem comigo. O trânsito, por exemplo.

 

De umas semanas para cá, decidi que nada mais vai me estressar no trânsito (volto ao assunto, sim), mesmo quando o que acontece pode me “atingir”. Tenho procurado ser gentil, dar passagem, facilitar a vida dos outros motoristas mesmo em detrimento da (minha) agilidade. E tem funcionado, mesmo quando a corda é esticada ao limite da tolerância, do bom senso. Tenho, nesses momentos, repetido para mim, como um mantra, “não é sobre ti, não é sobre ti”. Mas, me pergunto, qual é o limite da tolerância, em que momento eu teria direito de me irritar?

 

Quando, por exemplo, em rua de mão única, em que ambos os lados da rua têm uma placa indicando que, além estacionar, é proibido até parar, e caminhões estacionam exatamente ali, onde não poderia nem parar, e isso atrapalha o trânsito, nesse momento, poderia eu baixar o vidro e xingar? Até acho que sim, que estaria autorizado. Mas não mudaria nada, talvez minha pressão subisse, e eu perdesse alguns minutos de minha expectativa de vida. “Não é sobre mim, não é sobre mim”.

 

Assim como em grupos de WhatsApp, que não entro em discussões sobre política ou futebol, porque – aprendi ao longo dos anos – que o que se escreve é MUITO pior do que aquilo que se diz. E até alguns comentários que já não faço pessoalmente para não me incomodar, e aí digo que – como pessoa jurídica – não posso comentar diversos assuntos.

 

Como realmente já disse, é um esforço e trabalho diários.

 

Vou chegar lá, com calma e resiliência.

 

Mas só até o dia em que eu virar um velho ranzinza...

 

Até.

quarta-feira, agosto 28, 2024

Não estou pronto

Estava pronto para falar mais uma vez sobre minha história privada da infâmia, aqueles momentos em que tive atitudes ou disse coisas das quais me arrependo até hoje, mesmo que apenas eu (prefiro acreditar nisso) tenha me dado conta na época. Pretendia contar sobre um comentário que fiz sobre suicídio em um momento bem inadequado e, depois, silêncio constrangido...

 

Mas cheguei no hospital no começo da tarde e parei para tomar um café na Associação dos Médicos, e acabei me demorando um pouco mais porque a conversa estava boa, e confesso que saí contrariado, porque queria continuar. Ali é um lugar onde passo e muitas vezes me demoro diariamente, em encontros e conversas com colegas que foram meus professores, meus mestres e que agora são também amigos, o mesmo que acontece com os almoços de terça, quintas e sextas-feiras.


Nem sempre é assim, mas a conversa tomou o rumo do envelhecimento e morte. Relembrou-se Hemingway, ‘O Velho e o Mar’, e sobre como a leitura desse livro (e certamente quase todos os outros) muda com a passagem do tempo. O livro continua o mesmo, mas quem lê é outro, assim como o rio de Heráclito, que não se cruza duas vezes. Um dos interlocutores falou em determinado momento que estava em paz com a ideia da morte, e que esse pensamento lhe fazia viver intensamente o momento, o hoje. ‘Não se vive uma vez: vivemos todos os dias, só se morre uma vez’.

 

Eu disse, então, que não lido bem com a ideia da (minha) morte.

 

Certamente porque ainda sou muito novo para isso, não tenho o tempo de vida suficiente para estar em paz com a ideia do fim, ou não estou cansado da vida para estar tranquilo. Vai acontecer? Possivelmente, mas – imagino - ainda tenho um (longo, espero) caminho a percorrer antes de cansar. Ainda prefiro pensar que ‘temos todo o tempo do mundo’ e que ‘somos tão jovens’. E não tolero mais ter ‘tempo perdido’.

 

Filosofia em uma quarta-feira início da tarde.

 

Foi bom, mas fez desistir de falar sobre as minhas histórias de infâmia.

 

Até.

terça-feira, agosto 27, 2024

Menos, mais

Cabelos, mais uma vez.

 

Como já disse, não tenho problemas com relação a ter pouco cabelo. Mesmo que – em uma referência clara à serie Harry Potter – eu tenha em casa espelhos (de ojesed ou erised, do inglês) que enganam e mostram cabelo (que seria o meu desejo ter, ou desire) enquanto as pessoas que me vêem dizem o contrário, está – para mim – tudo certo. E, apesar do que o título possa parecer, essa não é, por outro lado, uma ode à rarefação capilar.

 

É preciso proteção.

 

Duas regras, então, com relação a ter pouco cabelo: no sol, chapéu (ou boné). No inverno, toucas. Simples assim, e adotei essa rotina para dias frios, porque – além de proteger, aquecer – dão um estilo que me agrada. Por esses dias frios dessa semana, tenho ido trabalhar de touca. Não, é claro, no atendimento dos pacientes, mas o resto do tempo, sim. E surge um pequeno problema estético (que talvez apenas eu note): ao retirar a touca, todo (o pouco, se quiserem) cabelo está achatado junto ao couro cabeludo. Ao chegar no consultório, vinha “ajeitando” o cabelo com as mãos, para reduzir isso, e ficava mais ou menos... 

 

Hoje, decidi tomar uma atitude: trouxe pentes para ajeitar o cabelo. Isso mesmo, no plural. Dois, diferentes, um complementando o outro. Se tivesse muito cabelo, bastaria uma ajeitada com as mãos e tudo bem. Como é pouco, precisa de mais. É contraditório, mas é assim.

 

Menos é mais.

 

A vida é estranha mesmo.

 

Até.

segunda-feira, agosto 26, 2024

Sobre ter ido e ter voltado

A passagem de datas marcantes, na história do mundo ou em nossas próprias histórias pessoais, sempre é momento propício para reflexões, avaliações e reavaliações dos fatos. É quando podemos (se quisermos, óbvio) parar e olhar para trás, para os caminhos percorridos e as consequências das decisões tomadas ao longo do tempo. Esses últimos dias têm sido assim para mim, em virtude da marca de vinte anos da minha ida ao Canadá para o Pós-doutorado na Universidade de Toronto.  

 

Já escrevi sobre isso, mas as repercussões desse período em minha vida pessoal, assim como para o médico, foram gigantescas. Desde (pode parecer bobo, eu sei) a validação externa do meu conhecimento como pneumologista (eu estava lá como especialista para fazer pesquisa, não como estudante) até a comprovação de que, sim, eu sabia viver por minha conta... Quando voltei, então, foi bem interessante ver o quão diferente os colegas me viam, o quanto o “meu conceito” como médico havia melhorado, por mais que eles não tivessem a menor ideia do que eu havia feito por lá. Sempre brinquei que eu poderia ter ido para lá para estudar inglês, ou até para algum tipo de trabalho braçal, que as pessoas pensariam que eu havia voltado um médico melhor.

 

Talvez estivessem certas.

 

Mas olho para aquele período como um grande aprendizado de vida, como realmente foi. Lidar com a distância daqueles que me eram mais queridos, viver em outro país, com outro idioma, trabalhar na minha área, criar referências, amigos (que o são até hoje), tudo me fez crescer como pessoa, ampliou o meu mundo. Tenho a certeza de que voltei uma pessoa melhor de lá.

 

E continuo aprendendo sempre, e procurando crescer a cada dia.

 

É o objetivo, ao menos.

Até. 

domingo, agosto 25, 2024

A Sopa

Sobre o Canadá.

Sempre gostei de citar trechos de poesias ou letras de músicas em meus textos, na maioria das vezes entre aspas e em itálico, para deixar clara a referência, mas outras em meio ao texto, de forma mais sutil, para que seja percebida talvez apenas por quem a conhece. É o meu jeito, ou estilo (como autor já publicado, meu dou ao direito de falar “meu” estilo... momento em que colocaria aqui um emoji de risada...).

 

Pois ando tão à flor da pele, mas qualquer beijo de novela não me faz chorar, aliás, nem novela assisto e, mais, nem televisão aberta ou mesmo a cabo, exceto pelos cada vez mais raros jogos de futebol. Também não choro há mais de trinta anos, exceto quando o meu pai morreu, um pouco antes ao antecipar o fim, depois quando realmente aconteceu e, por fim, na despedida, no velório, quando me emocionou a presença de meus amigos, amigos de minha mãe, do meu irmão e – muito – de amigos dele. Já contei sobre isso, foi um turbilhão de emoções que tornou tudo um momento que me senti abraçado e confortado por todos.

 

Como frequente em meus escritos, tergiverso.

 

Dizia eu que ando emocionado, saudosista, o que não é um estado infrequente para alguém que, como eu, definiu para si próprio o ofício de pensar a vida e colocar isso no papel, registrar o que penso e sinto, que é o que tenho procurado fazer por esses dias, de tentativa de escritos diários a partir de fatos cotidianos e, sim, reflexões da vida, da minha vida. Tenho andado distraído, mas não impaciente ou indeciso, mas no sentido de olhar o mundo de forma mais ampla, algumas vezes como observador de fora, como se não fizesse parte do que acontece. É um exercício de humildade, de certa forma.

 

A marca dos vinte anos de minha ida para o Canadá certamente é um dos motivos para esse sentimento de saudosismo de que falei. Lembro (obviamente) claramente das sensações daqueles primeiros dias sozinho lá, o estranhamento justamente por estar – pela primeira vez na vida – absolutamente sozinho. Cheguei em um vinte de agosto, curiosamente exatos quatro anos antes de a Marina nascer, mas só comecei efetivamente o trabalho em 08/09/2004 porque havia questões burocráticas a resolver e – quando resolvidas – estariam todos, exceto eu, claro, viajando para um congresso na Escócia. Então os primeiros vinte dias de Canadá foram para me organizar com as burocracias da minha licença médica e da Universidade, mas também com os trâmites de encontrar um lugar para morar que não fosse um basement (porão, normalmente mais barato), fosse em uma região legal e dentro do meu orçamento, e tivesse acesso fácil ao transporte público.

 

A primeira semana no Canadá foi comigo hospedado em um dormitório da University of Toronto que é alugado como hostel nas férias de verão, que terminava justamente no final dessa semana que eu havia alugado. Teria uma semana para organizar isso. Eu havia chegado em Toronto em uma sexta-feira pela manhã com a intenção de ter o final de semana para procurar lugar para morar, mas a pessoa que iria me auxiliar nessas tarefas estava fora naquele dia, então tive que esperar até a segunda-feira para começar o processo. O primeiro final de semana em Toronto foi apenas passeando, sem conseguir resolver nada.

 

A partir do começo da semana seguinte, após o final de semana “perdido” (em todos os sentidos), as coisas se resolveram, tanto com relação à Universidade, abertura de conta no banco (com cartão de crédito com um bom limite, pelo meu vínculo com a Universidade), aluguel do apartamento de um quarto (próximo ao High Park, no 21º andar de um prédio, mas sem vista para o lago ou para a CN Tower...) porque esperava visitas enquanto estivesse lá, e mudança em etapas para o apartamento. Os primeiros itens comprados para a casa foram um colchão de ar, lençóis, edredom e uma cadeira de camping, para a sala. Logo após, uma ida ao Walmart para comprar mais acessórios para a casa e ao supermercado. Em uma semana de Canadá, estava estabelecido. Tinha onde morar e uma geladeira cheia.

 

Foi quando fui para Nova York.

 

Conto mais outro dia.

 

Até.

sexta-feira, agosto 23, 2024

Memória e as Redes

Aconteceu duas vezes na última semana e, por coincidência no mesmo lugar, o caminho (passarela) que liga  os hospitais  da Santa Casa de  Porto Alegre ao prédio de estacionamento. Vinha eu chegando, começando o meu trajeto para o Pavilhão Pereira Filho, minha  casa na  Santa Casa, quando em sentido inverso ao meu, em direção ao estacionamento, vinha uma pessoa que reconheci, e logo percebi que haviam sido – em ambas  as vezes - meus  alunos quando eu fui professor do Curso de Medicina na Universidade de Santa Cruz do Sul, a UNISC. 

 

De onde me desliguei na metade de 2018.

 

O interessante é que nas duas vezes, além de me cumprimentarem, ambos fizerem questão de dizer que eu não deveria lembrar deles, mas eles haviam sido meus alunos. Acontece que – nas duas situações – eu lembrava não só que havia sido professor deles como também seus nomes. Fruto talvez mais das redes sociais do que de minha memória, mas não importa.

 

Eu gosto de acreditar que eu lembro da maioria daqueles que foram meus alunos no período em que fui professor na UNISC (na UNISINOS, apesar de mais recente, por ser em meio à pandemia e ao uso compulsório de máscaras, menos). De novo, sei que as redes sociais ajudam nisso, e que é um dos pontos positivos delas. Uma pergunta que fica, para mim, é como isso funcionava para os meus professores, será que eles lembravam dos seus alunos?

 

Isso mudou com o advento das redes sociais?

 

Dúvidas...

 

Até.

quinta-feira, agosto 22, 2024

Duas Décadas

Memória.

O aniversário da Marina, na última terça-feira, ofuscou uma data significativa em minha história pessoal: completaram-se vinte anos de quando cheguei à Toronto para o período de dois anos como Fellow no Toronto Western Hospital, vinculado à University of Toronto. Foi o meu pós-doutorado, e que – sob muitos aspectos e obviamente – foi muito importante para minha vida profissional. Não lembrei no dia porque tinha algo mais importante, o aniversário da minha filha. Isso mostra de maneira clara a ordem das prioridades na vida, e a família está em primeiro lugar, algo de que me orgulho. 

Toronto, então.

 

Tenho vívida em minha memória a sensação de que estava – mesmo que temporariamente – abandonando tudo o que era importante para mim, a Jacque, meus pais, minha família como um todo, meus amigos, minha cidade, para criar uma história em outra cidade de outro país. Emocionalmente, por mais que tenha tentado me preparar, a chegada foi difícil, por estar sozinho, sem conhecer ninguém, sem referências. Precisava criar minha história por mim.

 

É claro que minha situação, nesse caso, era confortável, afinal eu fui para lá com bolsa paga em dólares pela própria Universidade, a partir de projetos de pesquisa que desenvolveria. Poderia me dedicar apenas a estudar e fazer a pesquisa. Seria esse meu trabalho, sem outras preocupações. Sem noites ou finais de semana de plantão, rotina que eu tinha enquanto médico naquela época. Sem viajar para alguns desses plantões ou para trabalhar em Posto de Saúde.

 

Foi desafiador e fácil ao mesmo tempo.

 

E foi a virada de chave do ponto de vista profissional. Sem dúvida nenhuma, a experiência de viver e trabalhar fora do Brasil foi determinante para o rumo que minha carreira médica tomou a partir da volta. Foi uma experiência sensacional, mesmo estando longe das pessoas importantes da minha vida. Cresci como profissional e ainda mais como pessoa. Valeu muito.

 

Há vinte anos.


Até.

quarta-feira, agosto 21, 2024

Sobre o Saber

Saí de casa hoje cedo com uma ideia de texto que se perdeu no trajeto entre a garagem de casa e aqui, onde escrevo às quartas-feiras de manhã, antes das reuniões e outras atividades do dia, que até envolvem atender pacientes, mas não como atividade principal. É o único dia da semana de trabalho – devo dizer - em que a medicina, e atender pacientes em especial, não é o meu foco principal.

 

Dizia eu a ideia de texto que eu tinha se perdeu no trajeto até o meu “escritório” das quartas de manhã, e confesso sem nenhum pudor que escrevo na esperança de reencontrá-la, o que – claramente – não aconteceu até aqui. Tudo certo, sigo aqui em minhas reflexões.

 

Continuo com a ideia ou, poderia dizer, sensação e/ou receio, de que as pessoas estão com a ideia de que estou deixando a medicina em segundo plano devido aos meus projetos paralelos e outros planos, que realmente não são poucos. Pode ser, porém, que seja eu quem esteja preocupado com o que as pessoas estão pensando ou como estão vendo esses movimentos que tenho feito ao longo do(s) último(s) ano(s). E sei que a maioria das pessoas não está nem aí para isso, cada um preocupado com suas próprias vidas e seus problemas.

 

Funcionou.

 

Lembrei sobre o que ia escrever.

 

Eu NÃO falo vários idiomas.

 

O que não nunca me impediu de tentar me comunicar nesses idiomas que eu não falo. E lembro da primeira viagem para Europa que fiz, no final dos anos 90, com o grupo original dos Perdidos na Espace. Naquela época, eu já falava inglês e entendia espanhol, apesar de não falar mais que um portunhol. Íamos, entre outros lugares, para a Alemanha. Como preparação, dei uma “estudada” a partir de um daqueles guias de bolso de idiomas da Folha de São Paulo (era um tempo sem celulares com internet, Google Translate etc.).

 

Ao chegar na Alemanha, eu tinha uma mínima noção de algumas palavras básicas, e sabia dizer que eu não falava alemão e perguntar se o interlocutor falava inglês (assim como faria na França...). Se falasse, tudo resolvido. Sabia isso e uns pequenos diálogos para situações como chegar em hotéis, ou restaurantes.  Primeira parada na Alemanha, vindos de Bruxelas, na Bélgica, foi em Monschau, cidade de pouco mais de doze mil habitantes.

 

Chegamos no início da noite e, como era eu quem ia frente nessas situações, fui “negociar” um hotel. Não falavam inglês... Não me fiz de rogado: perguntei se havia quartos disponíveis. E foi só. Não entendi a resposta (solteiro ou casal) ... Tudo se resolveu, e ao longo do tempo, o meu repertório de alemão (e francês e italiano) aumentou, não a ponto de eu dizer que falo esses idiomas, porque não falo mesmo, mas acabo de certa forma me virando.  Por isso digo que NÃO falo esses idiomas, mas, sei lá, até me viro.

 

Pensei em um paralelo com o resto da vida.

 

Algumas coisas eu sei mesmo, sou especialista, apesar de estar sempre aprendendo, como a medicina. Eu muitas outras, eu sou um amador. Não pretendo saber tudo de tudo, mas quero saber um pouco de tudo que conseguir.

 

Mas, como disse, sigo médico, cada vez mais médico.

 

Até.

terça-feira, agosto 20, 2024

Valsa dos Dezesseis

Dezesseis anos hoje, Marina.

 

Eu lembro claramente dos meus dezesseis anos. O que eu pensava à época, minhas expectativas e dúvidas, meus anseios. Eram muitos. Pensava que eu já deveria saber o que queria para o futuro, que deveria ter meu caminho mais ou menos definido. Uma bobagem, claro.

 

Mal sabia eu que não precisava saber de tudo tão cedo, que o caminho a gente faz enquanto anda. Que nada é definitivo na vida quando se tem dezesseis anos. Ou vinte, trinta, quarenta ou mesmo cinquenta anos. Sempre podemos mudar o rumo, mudar a vida. No fundo, as coisas são mais simples do que as fazemos.

 

Mas acho que já sabes disso, filha.

 

Aliás, tenho a impressão de que sabes muito mais da vida do que eu sabia com tua idade, e isso é motivo de felicidade para mim. Sempre quando falo de ti para outras pessoas, entre outros elogios, digo que não tem tempo ruim contigo, que tens - aparentemente, ao menos – a serenidade de olhar o mundo de uma forma mais objetiva, mais tranquila, e essa é uma característica que eu nem sempre tive.

 

O que eu sempre soube é que eu queria ser pai, eu precisava ser pai. Desde muito cedo. De verdade. Ser teu pai, contudo, superou qualquer expectativa que eu pudesse ter. Tem sido muito melhor, tenho sido muito melhor por tua causa. És inspiração para o que faço, e te ver feliz é o que nos faz feliz, tua mãe e eu. A vida é um palco onde tens brilhado. Segue fazendo o que amas. 


Dezesseis anos.

 

A vida tem sido muito melhor por tua causa. 

 

Obrigado, filha.

 

Te amo.


Até. 

segunda-feira, agosto 19, 2024

Prioridades

Meu tempo, minhas regras.

 

Ano passado, por essa época, fui convidado para assistir um evento médico promovido por uma empresa da indústria farmacêutica em um hotel de Porto Alegre em um sábado de manhã. Respondi ao representante do laboratório que estava me convidando que eu agradecia o convite, que eu valorizava o trabalho de educação médica que era patrocinado / apoiado pela indústria – até porque já havia trabalhado em uma das multinacionais do setor – mas que não poderia estar presente porque era, justamente, em um sábado de manhã.

 

Que essa era minha hora mais cara da semana.  

 

O sábado de manhã era o momento da semana em que eu mais valorizava, era quando eu acordava cedo voluntariamente para praticar atividade física, e que - para trocar por qualquer outra atividade – o custo-benefício tinha que ser muito bom. E eventos de educação médica patrocinados pela indústria farmacêutica na minha cidade dificilmente se enquadravam nessa categoria. Não fechava a porta para esses eventos, mas eu era MUITO seletivo...

 

Algumas semanas depois, houve o meu acidente de bicicleta quando – em um sábado de manhã - quebrei o braço e tive que passar por uma cirurgia para corrigir. Ainda não voltei a pedalar nas ruas depois disso porque resolvi que primeiro preciso de uma avaliação com cardiologista antes de retomar a bicicleta (as outras atividades físicas eu tenho feito regularmente), o que está atualmente em andamento. Mas isso não mudou o quanto valorizo o meu sábado de manhã.

 

É mais do que isso, contudo.

 

Em um contexto mais amplo, significa o priorizar, o hierarquizar as coisas. É definir um valor para o meu tempo, para quais atividades eu vou dedicá-lo em primeiro e segundo lugares. No fundo, é saber o quê realmente é importante na vida. O tempo que dedico à família, aos amigos, ao trabalho, aos projetos pessoais. Tempo é dinheiro, dizem, mas tempo, na verdade, é mais que isso, é o bem mais precioso que temos, porque aquele que passou, tenhamos “desperdiçado” ou não, esse tempo não volta.  Cada um deveria, então, saber o que é importante para si. E - na medida do possível – não fazer concessões quando estiver lidando com o que é importante para a vida.

 

Eu tenho tentado.

 

Até.

domingo, agosto 18, 2024

A Sopa

Die Bremer Stadtmusikanten, os Músicos de Bremen, é uma fábula recolhida da tradição popular e que foi publicada a partir da segunda edição da coletânea Grimms Märchen, Contos de Grimm. Acho que todos conhecemos, de uma forma ou de outra, a história dos quatro animais domésticos que – ao atingir certa idade – são maltratados pelos donos, fogem para se tornarem músicos.

 

Eu lembro até hoje a versão dessa história, chamada ‘Os 4 Heróis’, da Coleção Disquinho, compactos em vinil que ganhei de presente não lembro com que idade, junto com uma vitrola, um pequeno toca-discos portátil. Ouvi infinitas vezes, a ponto de manter decoradas partes da história, como quando o burro encontra o cachorro, e o diálogo entre eles: 

 

- Olá, velho amigo cão, por que estás tão triste assim?  

 

- Se soubesses, camarada, terias pena de mim. Como estou velho e cansado, e não posso mais caçar, amanhã pela manhã meu patrão vai me matar...

 

Mesmo a versão dessas fábulas e contos de fadas sendo suavizadas ao longo do tempo (são de um tempo em que não eram literatura infantil), ainda sim há um ‘quê’ de crueldade nelas. E mesmo que não tenha sido esse o contexto da história original, me fez pensar na passagem do tempo, na inexorável passagem do tempo. Quando vamos ser "dispensados" por não sermos úteis, por não termos serventia? Será que isso acontecerá?

 

Pois então.

 

Conversava, dia desses com uma amiga quando ela comentou, a respeito de seu aniversário próximo, que estaria “completando quarenta anos!”, assim, com uma exclamação de surpresa, ou como se fosse um marco do início do fim (essa última uma interpretação minha). Como uma daquelas pessoas que sempre têm que fazer qualquer assunto sobre si mesmo, e um exemplo disso é aquele que sempre tem uma doença pior que a tua, ou um acontecimento de sua vida que é mais ou é maior do que a teu, comentei que – olha só – estava mais perto dos sessenta que dos trinta. “Não!”, corrigi: percebi que estava mais perto dos sessenta anos do que dos quarenta, que ela completaria em breve.

 

Foi falar isso e saber que precisaria escrever sobre esse tema.

 

O mesmo tipo de pensamento que eu tive e contei acima deve surgir (ou não) para algum dos integrantes do grupo com quem almoço de duas a três vezes por semana, em que – conforme o dia – eu sou mais novo. Alguns foram meus professores no curso de Medicina, e estão chegando ou já passaram dos oitenta anos. A média de idade é mais baixa que isso, mas não muito. Digo que não sei se o pensamento “o tempo está passando” surge também com frequência para outras pessoas assim como surge comigo. E penso que pode ser que eu não tenha (ainda) a maturidade suficiente, ou a resignação de saber (racionalmente eu sei, contudo) que é assim que as coisas são, aceitar que uma boa parcela do meu tempo já passou e que tenho menos tempo à frente do que tenho para trás. Sei, entretanto, que “perder tempo” com esses pensamentos é – de certa forma – bobagem. O tempo é agora, o que faço (fazemos) agora. 

 

O passado e o futuro não existem, o que temos é o agora, o dia de hoje. É quando podemos agir da forma que acharmos mais adequado. Mesmo que eu, com certa regularidade, evoque lembranças de outros tempos (e outras pessoas), sei que o que realmente importa e vale é o presente. Respeito minha história, sei o que quero para minha vida, mas tudo o que possuo é o agora, e é onde vivo (ou procuro viver, reforço esse ponto). Lembro do que escreveu Herman Hesse: “Evoque o passado, evoque o futuro: ambos estão em você. Até hoje você foi escravo do seu interior. Aprenda a ser o seu senhor. Isto é magia”.

 

Pareço um desses coachs, eu sei.

 

Não tem problema, porque eu falo de mim e para mim. Não tenho a pretensão de ensinar nada a ninguém. Cada um sabe de si, cada um tem suas próprias questões, sua própria vida.

 

E está certo, está tudo bem. 


Até. 

sábado, agosto 17, 2024

Sábado (e amanhã é dia de escola)

 

School Day School of Rock Benjamin POA


Neste domingo, 18/08, a partir das 10h.
Aulas experimentais. 
Shows da House Band às 11h e 15h.
Show Tributo KISS com a Banda Parasite às 17h.

Vai ser bem legal.

Te espero lá! 

Até.

sexta-feira, agosto 16, 2024

A Realidade de Cada Um

Pensamento mágico.

 

A nossa vida, nós seres humanos, depende basicamente da narrativa pela qual ela é contada (e vivida). A realidade não é a realidade: é a forma como interpretamos aquilo que (nos) acontece. Tudo depende de como vemos o mundo.

 

E, convenhamos, não é incomum o fato de sermos iludidos por nós mesmos, pela forma que enxergamos os fatos, a forma pela qual avaliamos os acontecimentos e os encaixamos em nossa narrativa. A realidade (a nossa realidade) é moldada pela nossa forma de ver o mundo (sem falar que o nosso discurso molda nossa realidade). Muitas vezes, por isso e, para isso, para encaixar um fato em nossa narrativa, criamos justificativas implausíveis, e aqui é que entra em jogo o pensamento mágico.

 

É fácil e conveniente encontrar explicações fantasiosas, irracionais até, para explicar e até justificar situações ou atitudes nossas, em qualquer campo da vida. Mas isso serve para nos eximir da responsabilidade sobre nossas vidas. Tirar de nossas costas o peso das consequências de nossos atos.

 

Accountability.

 

Assumir as rédeas da vida, como se diz. 

 

Ser responsável e assumir as consequências de nossos atos e palavras.

 

É o caminho.


Até. 

quinta-feira, agosto 15, 2024

Não Quero Saber

Sobre atualidades, ou não.

 

Há um tempo, concluí que deveria excluir – na medida do possível – diversas “coisas” da minha vida, em prol de minha própria saúde mental. Com relação a algumas pessoas, cuja convivência é inevitável, não há o que fazer, mas tenho sido cada vez mais criterioso nesse sentido: fugindo de pessoas que “sugam” nossa energia. Mas não só isso.

 

Já havia feito isso com relação ao cinema.

 

Decidi que – por um tempo – só assistiria a filmes para me divertir, daqueles em que saísse leve do cinema, ou que não precisasse pensar. Diversão pura e simples. Seleciono o filme que vou ver baseado em o quanto vou me divertir no momento. Não quero ver filmes que me deixem angustiado ou deprimido. Simples assim.


Mas não só isso.

 

Como ou o quanto eu consumo de notícias da vida real é outro fator que procuro controlar. Não tenho o desejo ou a curiosidade mórbida de saber detalhes de crimes que acontecem, principalmente se envolvem crianças, como esses que saíram nas manchetes no Rio Grande do Sul, ainda mais se foram maltratadas por quem deveria as proteger. Ou acidentes aéreos e as histórias das vítimas. Ou mesmo o futebol. Não preciso de notícias ruins, ou – melhor – não preciso de detalhes delas.

 

Já é o suficiente, para mim, saber que acontecem coisas assim no mundo, não preciso e não quero saber dos detalhes. Prefiro e devo focar minha energia naquilo que posso controlar.

 

Se estou certo ou errado, não importa.

 

Assim é que tem sido as coisas para mim.


Até. 

quarta-feira, agosto 14, 2024

Minha História da infâmia

Sempre penso na história privada da infâmia.

 

Não sei se esse é o melhor nome, mas foi o que me surgiu esses dias em que pensava em situações do passado em que – em diferentes situações – disse ou fiz coisas as quais lamento até hoje, quando volta e meia ressurgem em meus pensamentos como fantasmas carregando correntes à noite em uma casa mal-assombrada. Parênteses. O termo mal-assombrado para se referir ao que seria um local habitado por seres do além me soa estranho. Entendo que é assombrado pelo mal, mas parece que é resultado de entidades desleixadas, que não estão fazendo um bom trabalho, sei lá. Fecha parênteses.

 

Falava eu das infâmias passadas.

 

Percebi que aquilo que considero momentos ruins da minha trajetória no sentido em que fui inadequado, vamos dizer assim, nem sempre corresponde a algo que as pessoas talvez tenham também percebido como tal. Algumas vezes, sim, todos os envolvidos notaram e o clima ficou estranho, mas, como eu disse, em outras fui apenas eu que “notei” e me constrangi (ou as pessoas foram educadas o bastante para não me deixarem saber). E isso em um tempo ainda anterior ao politicamente correto.

 

Como uma vez, nos anos noventa do século passado, em um evento social em que eu era acompanhante da convidada, quando uma outra convidada veio comentar ironicamente sobre futebol comigo, ela de um time que não o meu. Isso em uma fase que eu ainda ficava irritado com isso, ao contrário de hoje em dia, em que não estou nem aí para isso. Gosto de assistir quando está legal. Caso contrário, tenho coisas bem mais importantes com o que me preocupar. Nessa situação específica, ela falou, falou, brincou, provocou, até que não aguentei e, contrariado, disse para ela que “não discuto futebol com mulher” ... 

 

Que merda de frase.

 

Sexista e indelicado, tudo o que não sou. Na hora vi que tinha falado besteira e me arrependi, mas o estrago estava feito. Talvez – provavelmente – a pessoa a quem disse essa bobagem não lembre disso, mas eu lembro, e até hoje me arrependo dela. Tenho tentado, ao longo dos anos, me redimir dela, mais ainda depois de ser pai de uma menina. 

 

Vamos crescendo assim, aprendendo com erros, nossos e dos outros.

 

Até.

terça-feira, agosto 13, 2024

Os Afetos e os Aviões de Carreira

Pensamentos paralelos.

 

Não é uma novidade, isso de pensamentos paralelos, e me refiro aqui àquelas situações em que começamos pensando em um assunto/situação e acabamos em outro sem uma conexão clara com o assunto original. Vamos, pode-se dizer, saltando de um assunto para outro. É bem comum isso, comigo.

 

Estava-se falando de acidentes aéreos, e a conversa seguiu para segurança de voos, companhias aéreas, programas de milhas aéreas, lembrou-se da saudosa VARIG e comentei que quando fui para o “exílio da Sopa” no Canadá, que completa vinte anos na próxima semana, eu fui com milhas. E mais, a minha volta definitiva para o Brasil, minha chegada em solo brasileiro, foi justamente no dia em que os aviões da VARIG ficaram em solo, no final da história da companhia aérea.

 

Era 30 de junho de 2006, dia da eliminação do Brasil da Copa do Mundo da Alemanha. Meu voo era Air Canada de Toronto até Guarulhos, e VARIG de Guarulhos para Porto Alegre. Acompanhando as notícias dos problemas com a VARIG dias antes do meu embarque, e me antecipando a potenciais problemas em minha chegada, comprei – por garantia – uma passagem para Porto Alegre pela GOL. Eu tinha que ter certeza que chegaria em casa...

 

Quando cheguei em Guarulhos, naquela manhã de junho, assim que passei pela polícia federal, uma funcionária de companhia aérea me abordou e disse que eu havia sido realocado em um voo da TAM naquele mesmo dia, mas à noite. Respondi que não, que eu tinha uma passagem de GOL para aquele mesmo dia, mas bem mais cedo. Apesar de ter que pagar excesso de bagagem (era minha mudança de volta do Canadá), deu tudo certo. Não para a VARIG, infelizmente, e nem para a seleção brasileira, que foi eliminada naquela Copa.

 

Seguindo em meus pensamentos paralelos lembrei, então, da primeira vez que retornei ao Brasil após três meses morando no Canadá, e na dificuldade que a geração do meu pai, ele especial, tinha em verbalizar afeto. Tinha uma dificuldade imensa em falar sobre, fruto de uma criação diferente, de tempos diferentes, mas demonstrava em atitudes reiteradas vezes, de cuidado, de atenção, da maneira dele.

 

Falava eu daquela primeira vez que retornei ao Brasil.

 

Estavam no aeroporto todos: a Jacque, meus pais, meus cunhados e meus sobrinhos, com a minha afilhada Roberta ansiosa na frente de todos com balões de boas-vindas. Os adultos mais atrás, e ela na frente, esperando, mas foi só abrir a porta e eu aparecer vindo da área de desembarque que ele passou na frente de todos para ser o primeiro a me abraçar.


Não precisava dizer nada.

 

Eu sabia.


Até. 

segunda-feira, agosto 12, 2024

O trânsito e o Zen Budismo

Sigo firme com meus propósitos, mas sendo testado diariamente.


Pode pensar você, caro leitor, que falo aqui da linha luta contra a dependência às redes sociais, mas está enganado. Quanto a isso, estou bem tranquilo. Claro que ainda muito do (atual) sucesso do processo se deve a um (cada vez menor) esforço consciente de não pegar o celular para olhá-lo. Tenho conseguido. E persiste o aumento de produtividade associado ao menor tempo perdido olhando para a tela. 


Falava eu, então, de que sigo meu propósito de procurar cuidar do meu nariz e deixar os outros viverem do jeito que melhor convém a cada um, desde que suas ações não interfiram na minha vida, claro, e não me estressar por causa disso. Ser mais tranquilo, mais zen.

 

Trânsito, é a que me refiro.

 

Tenho feito um esforço para não me importar com as infrações de trânsito que testemunho em meus caminhos pela cidade. A cada conversão proibida, a cada mudança de faixa sem sinalização que acontece, a cada estacionamento em local onde não é permitido sequer parada, eu apenas respiro fundo e penso “não é comigo, não é comigo”. Não resmungo impropérios e nem buzino para que o infrator saiba que alguém viu o que ele fez de errado (o que – olhando criticamente – é de uma inutilidade sem tamanho).

 

De infração em infração testemunhada, vou tentando melhorar. 

 

Até.

domingo, agosto 11, 2024

A Sopa

Tenho sido um bom pai.

 

Como sempre digo, autoconfiança é tudo na vida, mas não é esse o caso. Não estou afirmando que as pessoas pensam isso de mim – que sou um bom pai – e muito menos que eu seja, na visão do mundo, um bom pai ou não, porque isso não importa, não interessa. O que quero dizer é isso, que tenho sido um bom pai.

 

Porque estou tentando fazendo o meu melhor.

 

É isso o que me deixa de consciência tranquila, que vai me fazer – em algum momento futuro – olhar para trás e dizer, sereno, que fiz o que pude, assim como entendo que foi com o meu pai e com o pai dele e assim por diante. Na maioria das vezes, procuramos fazer o nosso melhor, aquilo que acreditamos ser o melhor para nós e para nossos filhos, aliás, para eles e para nós, porque essa é (ou deveria ser) a ordem de prioridades na vida: os filhos em primeiro lugar. Claro que existem aqueles que não são ou não pensam como eu, que não dão a importância que eu acho que deveriam dar a isso, mas acredito que a maioria de nós, pais (e mães, óbvio), estamos fazendo o nosso melhor.

 

Estou presente e procuro estar presente na vida da Marina. Dialogar, dar a liberdade dela falar o que pensa, de tomar suas decisões (e ser sempre seu porto seguro). Deixar que ela tenha autonomia. Passar tempo juntos, criar memórias. Mostrar afeto, verbalizar isso. É o mínimo que espero de mim, mas talvez seja tudo o que possa fazer. Mostrar o caminho, mas deixar ela trilhar seu próprio enquanto fico aqui na torcida.

 

Trilhei meu caminho na vida porque meus pais me deram essa autonomia e suporte. Procuro fazer o mesmo com a Marina, mas do meu jeito (e da Jacque, claro).

 

E assim, quando mais tarde me procure, quem sabe a morte, angústia de quem vive, ela possa dizer do pai que teve que não foi imortal posto que chama, mas foi infinito enquanto durou...

 

Até.


(homenagem ao Dia dos Pais e a Vinícius de Moraes...) 

sexta-feira, agosto 09, 2024

Da Tranquilidade (ft. Loucos de Cara)

É um processo.

 

Pensar em tranquilidade em um mundo corrido, de urgências reais e imaginárias, de cobranças internas e externas, de luta pela sobrevivência e contra o obscurantismo (sinta-se livre para definir isso como bem entender), parece irreal, utópico, quando na verdade é resultado de um longo caminho a ser percorrido. E deve ser ativamente trilhado. Não é, de forma alguma, ao menos para mim, claro, uma condição alcançada passivamente, requer um trabalho consciente, ao menos enquanto não for algo internalizado. É fruto de esforço consciente.

 

A mensagem, por trás disso, é ‘fica na tua’.

 

Não importam os outros, não importam as dificuldades que a vida te impõe, não importa o que os outros pensam de ti, fica na tua. Se sabes o teu caminho, mesmo que vagamente, e – tão importante quanto – se sabes com quem queres caminhar, segue em frente. Se mais nada existir, mesmo o que sempre chamamos real e isso para ti for tão claro que nem percebas, segue. Confia. Ninguém tem nada a ver com isso.

 

E, se um dia qualquer, ter lucidez for o mesmo que andar e não notares que andas o tempo inteiro, bom, é sinal que valeu. Pega carona no carro que vem, e se ele não vem nem importa, fica na tua.

 

A mensagem é simples. Vive tua vida.

 

É mais simples do que parece.


Até. 

quinta-feira, agosto 08, 2024

A Parede da Memória

A ideia da memória como uma grande parede onde, ao longo da vida, vamos pendurando quadros, como em uma grande galeria, é – para mim – uma ótima imagem. Quais quadros vamos pendurar ali, para que possamos, de tempos em tempos, visitar e admirá-los, com maior ou menor distanciamento?

 

A referência aqui é clara.

 

Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais, compôs o Belchior e cantou Elis, em um dos clássicos da música brasileira. Está entre as músicas que, com certa frequência, me pego cantarolando. É uma música forte, intensa. Foi utilizada em um comercial da Volkswagen há não muito tempo e virou polêmica exatamente pelo uso, em virtude do contexto em que foi composta e o uso associado a uma marca que teria sido conivente com a ditadura militar, etc. Não me interessei pela discussão porque acredito que – após criada e independente da intenção do criador – o sentido, a mensagem da obra de arte, é algo pessoal, de quem está a consumindo (admirando, ouvindo ou lendo) essa obra. Mas não era disso que queria falar.

 

Para você, qual a lembrança que, na parede da sua memória, é o quadro que dói mais? Ou são aqueles quadros que nunca foram pendurados/vividos? 


Até. 

quarta-feira, agosto 07, 2024

Bird’s Eye View

O termo Bird’s Eye View significa olhar algo a partir de um lugar muito alto, de forma que se consiga ver uma grande área abaixo de onde se está. Pode significar também o olhar de perspectiva, o olhar o todo para se ter uma noção completa da paisagem, ou situação.

 

Sempre traço um paralelo com a praia: do ponto de vista do oceano, de sua imensidão, toda praia é pequena, insignificante, independente de sua beleza para quem olha a partir dela, a praia. É um ensinamento para a vida. Quando possível, devo (devemos) olhar para o todo, o contexto, a história, e não apenas para aquilo que se apresenta bem em nossa frente.

 

Pequenos contratempos da rotina não devem (não deveriam) nos afastar do plano maior, do nosso alvo, o objetivo a longo prazo. De nos tornarmos que devemos (queremos) ser. Li e compartilhei há alguns dias que ‘levamos muito tempo para nos tornar quem somos’.

 

É um trabalho, uma luta diária, e – como tal – sujeita a altos e baixos, a episódios de euforia e desânimo, de êxtase e ansiedade. Trabalhar para que uns não afetem os outros, e que não nos tirem do rumo, do nosso rumo, é fundamental.

 

Tenho tentado, tenho trabalhado (e vamos bem, posso dizer).

 

Até.