terça-feira, setembro 30, 2025

Entre Setembro e Outubro

Termina setembro, e outubro passará voando.

 

É o ciclo do ano: termina agosto e – em um piscar de olhos – estamos em dezembro e as festas e o verão. Mesmo em um ano com poucos feriados prolongados, como esse ora em curso, ainda assim os últimos meses do ano dão a sensação de passarem mais rápido. Estamos já planejando os eventos, familiares e não, que encerrarão dois mil e vinte e cinco. Depois de passar o longo e úmido inverno, seguimos rumo a um tempo melhor.

 

Há alguns anos, pensei minha semana habitual de trabalho como uma subida de montanha, em que escalava fazendo força até a quarta-feira ao meio-dia, e depois era a descida, mais tranquila, mais leve, até a sexta-feira que prenunciava o final de semana. À época, eu dirigia trezentos quilômetros, metade do que rodava na semana, apenas na terça-feira. 

 

Tempos depois, eu ainda fazia isso e, mais, ainda tinha uma viagem na quinta-feira para algum lugar do Brasil, voltando na sexta-feira e muitas vezes utilizando o sábado de manhã para trabalho em casa. Física e mentalmente cansativo. Valia à pena em termos financeiros, já contei, mas o preço em termos de saúde mental tornou-se alto em determinado momento.

 

Isso foi ainda antes da pandemia, o que parece ser sido há uma eternidade, em outra vida. Muito mudou desde então, muito mudei. Para melhor, eu prefiro pensar. 

 

Não que eu tenha menos atividades ou tarefas hoje em dia.

 

Agora, contudo, estou no comando do meu tempo. 

 

Nada é mais importante que isso.

 

Para mim, claro, para mim.


Até. 

segunda-feira, setembro 29, 2025

O Que Pensar

Uma coisa que sempre procurei fazer, e que continuo fazendo, é ensinar para a minha filha que, antes de ter uma opinião sobre qualquer assunto, o certo é procurar ter o máximo de informação a respeito do tema, tentar entender todos os lados em questão, para poder definir sua posição. Seja ela qual for. 

 

Nunca pretendi impor a ela a minha opinião (que é óbvio que acho que é a melhor, mas é a minha opinião...), mas que ela – antes de formular um juízo sobre qualquer assunto - ao menos pesquisasse um pouco, não cedesse à tentação de ouvir apenas os que gritam mais alto, porque usualmente quem grita mais é porque tem razão de menos. E as pessoas têm gritado muito por esses dias, e sabemos que é difícil pensar em meio à confusão.

 

Vamos discordar em temas que ainda nem imagino, porque provavelmente não surgiram em debate, e está tudo bem. Desde que, claro, tenha (tenhamos) embasamento para validar suas (nossas) opiniões. Se for diferente do que penso, e tiver suas razões para isso, tudo certo, tudo bem. Da mesma forma que havia assuntos dos quais eu tinha uma opinião diferente do meu pai, e isso nunca foi um problema.

 

Ampliando um pouco o tema, e saindo de casa, a convivência com o diferente, o contraditório, é saudável, mesmo que as pessoas estejam cada vez menos dispostas a sair de sua bolha, e encarar que nem todos são iguais, que os outros tem o direito de pensar diferente de nós. E as redes sociais apenas aumentam esse intolerância.

 

Nem sempre é agradável ler ou ouvir algo que desafie nossas crenças, nossas verdades, mas se elas se mantém mesmo após serem questionadas, mesmo após argumentos em contrário, mesmo após uma análise mais detalhada (diferente da aceitação cega e do efeito manada) e um debate sereno, fica tudo melhor.


Até. 

domingo, setembro 28, 2025

A Sopa

Futebol. Ou não. Ou por pouco tempo.

 

Em casa, sou minoria. São duas mulheres e eu. Então, quando existem votações para alguma decisão, posso ser facilmente derrotado por elas. E está bem, faz parte. Nossa dinâmica familiar funciona muito bem.

 

Existe, porém, uma situação em que eu – mesmo minoria – tenho a preferência, a prioridade. Ocorre uma, às vezes duas vezes na semana. E é quando digo uma frase que causa desâmino nas duas: ‘Hoje tem Inter”. É o momento em que tenho o direito de ter a televisão para mim por duas horas, mais ou menos o tempo que dura um jogo de futebol. Só que...

 

Eu não gosto de futebol.

 

Eu torço para o Inter, o que é diferente, no sentido em que usualmente eu não paro em frente à televisão para olhar jogos de outros times, ou dispenda um tempo grande com minha atenção focada nisso, principalmente se são jogos de outros times nacionais. Prefiro fazer outras coisas.

 

E com relação ao torcer pelo Inter, e isso vale para o futebol em geral, à medida que fui amadurecendo, percebi que isso não poderia ser um condicionante do meu humor. Não poderia (ou deveria) basear meu humor ou mesmo – exagero – felicidade em resultados de jogos em que não tenho a menor ingerência ou controle. O futebol deveria ser apenas diversão.

 

De ser ‘O Pior Torcedor’ (aquele que não incomoda os torcedores de outros times porque não quer ser incomodado) passei a uma atitude diferente, caracterizada por dois pontos principais: em primeiro lugar, mesmo sendo fundamental a vitória e o ganhar títulos, objetivo máximo, percebi que a jornada valia muito. Foram grandes jogos, momento bons, mas no final perdeu o campeonato, paciência, me diverti na jornada. Não está tudo ruim, no final das contas. Segunda característica, então, é que futebol deve ser diversão. Se está bem, ganhando, ótimo. Se não está bem (como a fase atual, por exemplo), está bem também, não vai afetar minha vida, não vai estragar meus dias. Se estou assistindo um jogo e não está jogando bem, começa a perder, paro de assistir e vou fazer outra coisa. Nesse caso, a negação é a melhor estratégia. Não leio, não ouço e não vejo sobre futebol. Largo de mão, de forma bem tranquila. Até o começo do próximo ano, quando “zera o cronômetro” e começamos de novo. 

 

Por isso, aqui em casa, quando digo que ‘Hoje tem Inter’, elas já sabem que é provável que aquelas duas horas se tornem bem menos tempo. Se é um jogo noturno, então, é bem possível que elas possam assistir ao seu seriado preferido e eu vá ler alguma coisa.

 

E tenho lido muito por esses dias...


Até. 

sexta-feira, setembro 26, 2025

Histórias de Consutório (5)

Manhã de consultório.

 

Durante os atendimentos de uma quinta-feira qualquer, entre pacientes com queixas diversas e crônicas, atendo um homem mais ou menos da minha idade e, preenchendo o prontuário eletrônico no meu notebook, descrevo detalhes do caso que envolvia alterações do sono - privação e pernas inquietas - que o deixavam com sonolência excessiva no dia seguinte. Para descartar outras condições, descrevo também situações que ele nega possuir. Como histórico de alergia, ou atopia.

 

Escrevo, digitando rápido, ‘Nega utopias”. 

 

Ao perceber o que havia escrito, rapidamente fotografei a tela do computador e, em meio à consulta, apesar de corrigir a digitação equivocada, não pude evitar de evoluir no pensamento a partir da negação (involuntária, imaginária) das utopias pelo paciente. Houve um momento de (virtual) desânimo. Que triste isso, de não possuir utopias, ou negá-las. 

 

A vida em preto e branco. Ou não.

 

Utopia, definida como lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos; ou qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade. O não-lugar, o lugar que não existe.

 

O seu oposto, a Distopia seria lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação. Tudo se complica porque aquilo que é utopia para alguém pode, para outro, ser distopia. Complicado, confuso, como somos nós seres humanos.

 

Como seria a vida sem os sonhos e planos que, na prática, podem ser difíceis ou impossíveis de alcançar, mas que servem para inspirar um futuro melhor?

 

Como falei, triste. Em preto e branco. 


Até. 

quinta-feira, setembro 25, 2025

Unannehmlichkeit*

Como se não bastassem os problemas comezinhos dos dias, eventualmente ainda encontro novas formas de, posso dizer, implicância. Crio, de maneira gratuita ou não, novas razões para me irritar.

 

Aconteceu, por exemplo, com a palavra ‘severo(a)’. Começou quando alguém traduziu severe asthma, asma grave em inglês, como ‘asma severa’, tradução que até hoje me soa mal. ‘Severo’, que significa ‘pouco ou nada inclinado à indulgência; rígido, rigoroso, inflexível nas decisões ou na disciplina’. Por extensão, até poderia ser grave, mas definitivamente não é a melhor tradução. Claro que isso é o meu ponto de vista. Falando em por extensão, acabei, por extensão, implicando com a palavra ‘severo’ quando usada em qualquer circunstância...

 

Tento, então abstrair esse incômodo semântico e mudo de assunto. 

 

Apesar de ser usuário e entusiasta da tecnologia, e apesar de nem sempre ser um early adopter em alguns casos como já fui outrora, atualmente tem me incomodado o uso excessivo dos smartphones. O tempo de telas tem me preocupado, e tenho trabalhado para reduzi-lo, na medida do possível, porque também uso para trabalho.

 

Sei que já falei disso, e que posso soar repetitivo.

 

É importante, e bom, ter mais tempo offline.


Até. 


* inconveniente, em alemão

quarta-feira, setembro 24, 2025

Mau Humor

Algumas poucas vezes, sim, eu fico realmente irritado.

 

E, admito, na maioria delas, o problema sou, e minha incapacidade pontual de não reagir a determinadas situações que, sei bem, não precisavam de reação, ou da reação mal-humorada que desencadeou em mim. Como eu disse, o problema sou eu, e não os outros.

 

Nesses momentos, tenho que ficar quieto, em silêncio, ensimesmado eu e minhas bobagens, no meu canto, esperando passar e voltar ao meu normal, talvez após uma noite de sono, por exemplo. E então vou acordar de ressaca (moral) e me sentindo culpado por ter me irritado e querendo me redimir.

 

São cada vez mais pontuais esses arroubos de mal humor, e trabalho para serem ainda mais raros. Procuro, e no geral tenho conseguido, ser paciente a ponto de não me perturbar com pequenas coisas do dia a dia, não gastar energia com situações que não dependem de mim, ser (ainda) mais flexível nesses casos.

 

É um trabalho diário.

 

Às vezes escorrego, mas volto aos trilhos logo após.


Até. 

terça-feira, setembro 23, 2025

Primavera

Durante muitos anos associei a primavera com os sábados de manhã em que tinha aulas de educação física no parque da Redenção, em Porto Alegre. Era o período do segundo grau (ensino médio), em que fazia curso técnico de Operador de Computador (hoje Processamento de Dados, eu acho) na Escola Técnica de Comércio da UFRGS, que naquela época ficava no Campus Centro, logo atrás da Faculdade de Economia.

 

As aulas regulares de educação física eram às terças e quintas à tarde, se não me engano, com a opção do sábado de manhã para quem trabalhava. Era meu caso, que durante um tempo trabalhei com o meu pai, na Ferragem Toledo, que ele e um sócio tiveram na Av. da Azenha, e depois quando fiz estágio no CPD Central da UFRGS, ali ao lado do Hospital de Clínicas. O sábado de manhã, então, era de ir para o parque para fazer educação física.

 

Provavelmente esteja aí a semente da minha convicção de que os sábados de manhã são o melhor momento da semana, que depois foi reforçada pelos verões na praia. Sábado de manhã, sol e caminhando ou jogando no parque. Era bem legal.

 

E a primavera amplificava o bom momento representado pelo sábado. Após o frio e a chuva dos meses de inverno, a primavera, com temperaturas amenas e tempo bom, era como nascer novamente, era como recomeçar a viver. 

 

Foi assim, há trinta e cinco anos, quando saí do hospital em um setembro, após vinte e poucos dias internado entre UTI e enfermaria, pelo acidente em que estive envolvido na madrugada do Dia dos Pais de 1990. Seria um recomeçar a vida, mesmo que eu não tivesse total ideia da magnitude de tudo o que havia passado. De como tudo isso me mudaria, ou ao menos mudaria a forma como vejo e conto minha história desde então.

 

Até.

segunda-feira, setembro 22, 2025

O Algoritmo

Começa a semana, e um amigo comenta, ao chegar no hospital, que as incomodações e preocupações e problemas começam junto com a segunda-feira, quando não vem do final de semana e tudo vira um continuum de situações com que temos de lidar. É da vida, comentamos, e lembro de que já não tenho como recuperar o último momento em que foi possível não ter nenhum tipo de preocupação. Por outro lado, também não sei quando foi que se imaginou ser possível viver sem problemas, sem decepções ou frustrações.

 

A grande dica da vida talvez seja essa, a de viver bem apesar dos potenciais problemas e conflitos e preocupações. É o velho papo de que a vida é 20% o que nos acontece e 80% a forma como reagimos ao que nos acontece. De novo, é fácil falar, colocar em prática nem sempre o é.

 

Assistimos, a Jacque e eu, esse final de semana que passou, uma série italiana de seis episódios na NETFLIX chamada ‘Em Busca do Algoritmo da Felicidade’, que é sobre isso, sobre o que nos faz felizes na vida. Achamos bem interessante, e fez pensar. Tenho minhas teorias sobre isso, sobre a busca da felicidade, se é o destino final ou não, e busco colocá-las em prática no meu dia a dia.

 

De certa forma, eu acho, estou conseguindo.

 

Mas ainda há um longo caminho, o que é bem bom.


Até. 

domingo, setembro 21, 2025

A Sopa

Enquanto voltávamos para casa, ontem à noite, quase chegando em Porto Alegre, a chuva constante e a rodovia pouco iluminada, ouvíamos música do rádio. Isso, rádio. Não era Spotify ou Apple Music ou outro streaming de música. Sábado à noite, música no rádio do carro.

 

Ouvimos uma sequência de versões do tango ‘Por um Cabeza’, de Gardel, que é perfeita para se ouvir com o clima do momento, noite e chuva. Não me canso nunca de enaltecer a beleza do tango, e de outras formas musicais do sul do mundo, como a milonga, por exemplo. A vontade de revisitar Buenos Aires, aumenta muito nesses casos.

 

Falávamos, enquanto voltávamos para casa, sobre a passagem do tempo, mais uma vez. O nosso tempo, que já é a maior parte de nossas vidas. E de como passou assim, quase sem que o percebêssemos, como se tivéssemos acordado um dia e – do nada – estamos juntos há trinta anos. Trinta anos!

 

O curioso é que ainda olho no espelho e vejo alguém jovem, e sei que esse conceito é elástico, flexível, e dependente do observador e da comparação com o(s) outro(s), os que estão próximos ou não. Olho no espelho e, confesso, gosto de quem vejo. 

 

O domingo amanheceu em silêncio, chuvoso e lento.

 

Por una cabeza, todas las locuras
Su boca que besa
Borra la tristeza
Calma la amargura

 

Por una cabeza
Si ella me olvida
Qué importa perderme
Mil veces la vida
Para qué vivir

 

Até.

 

sábado, setembro 20, 2025

sexta-feira, setembro 19, 2025

Sou das Manhãs

Sou um ser diurno.

 

Definitivamente. Peremptoriamente.

 

Tenho, então e por isso, o hábito de acordar cedo, ou relativamente cedo dependendo do ponto de vista de cada um. Houve épocas em que despertava mais cedo do que atualmente, mas isso não é o importante. Ainda acordo cedo, antes das sete horas da manhã. Ainda mais na primavera e no verão.

 

Por uma questão pontual, da Jacque que precisava estar acordada antes das seis da manhã para acompanhar online um congresso que ocorre por esses dias em Vienna, na Áustria, acordei cerca de meia hora mais cedo do que o habitual. Apenas meia hora, míseros trinta minutos.

 

Fez uma brutal diferença no dia.

 

Essa metade de hora ganha rendeu muito no meu dia, desde o chimarrão que fiz logo cedo, até sair para o trabalho um pouco antes e o trânsito não ser tão ruim, por exemplo. O ganho de tempo, mesmo que aparentemente pouco, fez muita diferença.

 

Lembrei dos finais de semana em que acordava bem cedo para treinar de bicicleta. Acordava, saía, pedalava entre trinta e quarenta quilômetros e voltava, e ainda nem eram dez horas da manhã. Era muito bom, pedalando sozinho ou com amigos. Devagar, sem forçar, pretendo retomar o hábito.

 

Hoje, acordei mais cedo de novo.

 

Não vai ser sempre, claro, mas reafirmo minha índole diurna, das manhãs, mesmo que os eventos musicais sejam normalmente noturnos e que eu nem sempre vá conseguir estar acordado e disposto assim, logo cedo.

 

Deve haver um balanço, claro.


Até. 

quinta-feira, setembro 18, 2025

O Melhor da Vida

 Quando a Marina nasceu, há pouco mais de dezessete anos, pouquíssimo tempo depois e progressivamente, aprendi ou descobri, que seja, que filhos são o que de melhor há na vida. Verdade pura e simples, inquestionável.

 

Para mim, ao menos, que é o que - no final das contas - importa.

 

Ao longo do tempo, essa certeza apenas aumentou, se é que isso é possível. À medida que ela se desenvolve, cresce, se torna uma mulher a quem admiro, a felicidade aumenta. Por isso que sempre digo isso, que é o que há de melhor na vida, quando nasce o filho ou filha de algum conhecido, o que vem se tornado algo raro, afinal meus amigos estão envelhecendo junto comigo, e quase todos já são pais, e alguns até avós.

 

Então é ainda mais legal quando – por esses dias - nasce filho de amigos, como aconteceu ontem, com os queridos Felipe e Bárbara. É uma alegria bem grande, e a certeza de que eles já descobriram isso, já tem certeza de que estão diante da felicidade em seus estado mais puro, e isso nos contagia. A Marina, por exemplo, disse que sentiu como se tivesse nascido um priminho dela. Muito legal.

 

Sem bem-vindo, Henrique.

 

Beijo.

 

Até.

quarta-feira, setembro 17, 2025

Ontem, e hoje

Era a noite de segunda para terça-feira, ontem. Madrugada, ainda antes do céu começar a mostrar os primeiros sinais do novo dia, e acordei. Sentei-me na cama, levantei-me e fui até o banheiro em silêncio e com o cuidado de não acordar ninguém mais em casa. Já no banheiro, luzes apagadas e fracamente iluminado pela luz que vem da rua, ainda não a aurora, me olhei no espelho. Não sabia que dia da semana era esse que estava para começar.

 

Demorou alguns instantes de concentração para lembrar o que havia feito no dia anterior e, por óbvio, concluir qual o dia que viria em pouco tempo, quando o despertador tocasse e eu já estivesse acordado esperando por ele. Seria a rotina das terças-feiras, de consultório, almoço rápido, laboratório de função pulmonar, consultório de novo, outra vez laboratório de função pulmonar, volta para casa, e noite de ensaio. 

 

Em meio à tarde, enquanto caminhava entre o hospital e o consultório, passando pelo túnel de extremos climáticos (MUITO frio no inverno e MUITO quente no verão) que liga o hospital com o centro clínico, pensei que essa semana realmente se arrastava, afinal ainda era terça-feira à tarde, e parecia que eu carregava todo o peso do mundo em minhas costas, como o Marvin da canção dos Titãs, que é versão de uma música americana dos anos 70 e que homenageia o cantor Marvin Gaye, que havia sido assassinado por seu pai na época em que foi feita a versão da música. A terça-feira ainda ia longe.

 

Hoje, então, já é quarta-feira.

 

O melhor dia da semana (não o melhor momento, que é o sábado de manhã), afinal ontem era recém terça-feira e amanhã já será quinta-feira.

 

Perspectiva, tudo é uma questão de perspectiva.


Até. 

terça-feira, setembro 16, 2025

Cancelar Alguém

Cancelamento.

 

Ato ou efeito de cancelar. Boicotar ou retirar o apoio a uma organização, pessoa, etc., especialmente em posição poder e influência, por meio de manifestações nas redes sociais, por causa de opiniões, atitudes ou comportamentos considerados inaceitáveis.  É uma das palavras e ações da moda, em tempos de polarização, intolerância e posições políticas extremadas.

 

Pessoas que se acham portadoras no monopólio da virtude sentem-se no direito de julgar e executar punições a outros por opiniões dadas, por ideias que consideram erradas, ou ruins. Como todos notamos, as redes sociais se tornaram um tribunal acusatório, onde todos apontam para os defeitos dos outros talvez para mascararem os seus próprios.

 

Isso me incomoda.

 

Quem é que outorgou a você, cancelador, o direito e a prerrogativa de determinar quem é que pode ou não ter voz?

 

Existem pessoas, fora da minha bolha, com as quais eu não concordo, cujas opiniões são diametralmente opostas às minhas. E está tudo bem. É o direito delas terem sua opinião e é meu direito discordar, se for o caso. Não é direito de ninguém, contudo, querer silenciar a voz do outro.

 

Volto, então, à questão da liberdade de expressão.

 

Considero direito fundamental. Como já falei, é direito de cada um ter e expressar sua opinião, e o limite disso é a lei. Se eu estimulo, faço apologia, cometo ou defendo um crime, devo arcar com as consequências disso, na forma da lei. E quem deve julgar e condenar ou não, é a justiça. 

 

Se eu não concordo com o que alguém diz em rede social, se me sinto ofendido ou agredido, a melhor forma de lidar com isso, na minha opinião, é ignorar, não ler, não ouvir. Se outros quiserem dar audiência, problema deles. Eu não vou fazer isso. Se alguém é idiota e propaga, divulga e se orgulha disso, problema é dele, não meu. Eu não vou ler, ou ouvir.

 

Não dar palco para quem eu considero idiota é a (minha) melhor forma de lidar com isso.


Até. 

segunda-feira, setembro 15, 2025

Liberdade

As polêmicas do mundo.

 

Há algum tempo, decidi que não escreveria sobre alguns temas que viraram controversos, sujeitos a extremismos os mais variados. Porque não queria me incomodar, porque muito dos que leem não entendem ou interpretam o que estão lendo de forma equivocada. Também porque – já disse – o que se escreve tem uma gravidade maior do que o que é dito.

 

Então não falo de política e nem de futebol.

 

Muito porque já não tenho disposição pra discussões estéreis e acaloradas sobre temas que não vão levar a lugar nenhum, exceto a ressentimentos e contrariedades. Quero, por aqui, paz e tranquilidade para – quieto – observar o mundo e refletir sobre o que vejo e sinto. Simples assim.

 

Não posso, contudo, evitar falar sobre um assunto que me é caro, e que tem sido utilizado – a meu ver – de forma rasa no debate público, sendo parte de narrativas de um lado e outro do espectro político.

 

A liberdade de expressão.

 

Princípio básico e fundamental de uma sociedade livre, a liberdade de expressão deveria ser defendida por todos sempre, independente de quem diz ou do que é dito. Atribuída à Voltaire, mas escrita por Evelyn Beatrice Hall em uma biografia dele para resumir seu pensamento sobre a liberdade de expressão, a frase "posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". É como penso.

 

Porém, liberdade de expressão vem junto responsabilidade. Podes dizer o que quiseres, desde que não seja apologia ao crime, claro, mas deverás arcar com as consequências daquilo que disseres. 

 

Ponto.


Até. 

domingo, setembro 14, 2025

A Sopa

A pandemia do COVID.

 

Há cinco anos era pandemia, estávamos há seis meses entre isolamento e distanciamento, e sem perspectiva de final. Vinha pensando nesse tema por esses dias, enquanto circulava por Porto Alegre. Parece que foi em outra vida, em outra existência. E são apenas cinco anos.

 

O tempo, olhado em retrospectiva, passa muito rápido.

 

Aprendi, ou percebi, essa verdade quando me mudei para o Canadá há – vejam só – vinte e um anos. Após longos três meses lá, sozinho, meio acampado e focado em terminar de escrever minha tese de doutorado, vim ao Brasil para defendê-la. Ao chegar, foi como se eu nunca tivesse saído, como se eu nunca tivesse ficado longe. E o mesmo aconteceu quando voltei a morar no Brasil, depois de dois anos.

 

É a relatividade da percepção do tempo.

 

Não a relatividade de Einstein, mas a relatividade subjetiva, psicológica, digamos, da passagem tempo. A percepção de que o tempo passa mais rápido ou devagar dependendo de eventos memoráveis, que saem da rotina. Como quando viajamos, em que o tempo parece se alongar enquanto vivemos essas experiências diferentes em contraste com quem segue sua rotina que passa sem percebermos.

 

Emendo, então, um assunto em outro, e lembro que viver a mesma rotina (burocrática?) todos os dias faz os eventos que vivemos tornarem-se menos memoráveis, porque acabamos por processar informações com menos detalhes, e aumenta a sensação da passagem mais rápida do tempo. Penso nisso há muitos anos, confesso.

 

Essa era (mais) uma das dúvidas que eu tinha quando estava para escolher qual rumo profissional eu seguiria. A medicina me parecia, à época, um caminho mais “seguro” que outros, mas que resultaria em um linha de vida mais ou menos previsível, como se – ao decidir ser médico – eu tivesse como saber como seria minha vida até o final. E que se escolhesse assim, eu fecharia a porta para outras possibilidades, seria um caminho exclusivo.

 

Optei pelo caminho da medicina não pela previsibilidade da vida dali em diante, mas porque vislumbrava que poderia – talvez, quem sabe – ainda assim escrever, uma das minhas paixões, porque havia exemplos diversos que poderiam servir de inspiração. Com dezesseis anos, achava que sabia muito, como deve ser com os jovens se aproximando da vida adulta. Achava – e estava enganado – que minha decisões naquele momento eram definitivas, e que, ao entrar por uma porta, eu fechava as outras e abdicava de outras possíveis vidas.

 

Aprendi que não, e procuro ensinar isso à Marina.   


Até. 

sábado, setembro 13, 2025

Sábado (e o final de semana começou ontem)

Sexta-feira, começo da noite


O começo de final de semana é sempre bom.

Bom sábado a todos.

Até.
 

sexta-feira, setembro 12, 2025

Olha Só

Comunicação.

 

Com certa frequência, reafirmo a minha convicção de que as pessoas, mesmo que a linguagem tenha surgido há cerca de cento e trinta e cinco mil anos, ainda não aprenderam a dominá-la da melhor forma. É a única explicação para diversas situações vividas e que seriam evitadas, ou amenizadas, caso houvesse uma melhor comunicação interpessoal.

 

E isso é ainda mais intenso quando pensamos em comunicação escrita, pois essa requer habilidades (e prática) um pouco maiores. Tenho um cuidado gigante quando vou escrever alguma mensagem a alguém, pois sempre há o risco de confusão.

 

Alguém pensa uma coisa, escreve outra, e quem lê entende uma terceira coisa, que muitas vezes nem tem relação com a intensão original de quem pensou a mensagem. E a confusão pode acontecer. Por isso o cuidado que devemos ter com o que escrevemos e para quem escrevemos. Ainda pior: o que foi escrito está ali, em frente ao leitor, para ser lido, relido e lido mais uma vez, criando algumas vezes histórias gigantes e fantasiosas a partir de algo que não tinha nada a ver.

 

Apesar de cuidar com o que escrevo quando envio mensagens, e mesmo sendo alguém que escreve, ainda considero que a conversa, o diálogo, sempre são melhores. É a melhor forma de nos entendermos, a mais simples.

 

Tem problema, algo não te agrada, está com dificuldades, precisa de ajuda? Vem falar comigo. Me conta, desabafa, reclama. Sabendo o que está acontecendo vou poder te ajudar, vou poder corrigir o que pode ser corrigido.

 

Não seja tímido.

 

Vamos conversar.


Até. 

quinta-feira, setembro 11, 2025

Efemérides

Do grego ephemeris, que quer dizer "de cada dia", efeméride pode ser um fato histórico importante que ocorreu numa data específica ou a celebração dessa data. E isso pode ser geral ou mesmo datas que são importantes individualmente. Percebi por esses dias que, à medida que os anos vão passando, vamos acrescentando, ou celebrando, ou ao menos lembrando progressivamente desses eventos, essas efemérides.

 

Ano que vem, por exemplo, completam-se vinte anos desde voltei ao Brasil depois de morar dois anos no Canadá fazendo um pós-doutorado. Vinte anos no mesmo consultório. Da mesma forma, completamos, a Jacque e eu, trinta anos de casados. Do acidente que me levou a ficar em coma em uma UTI por treze dias, vão-se trinta e cinco anos. Já completei trinta anos de formado, em dezembro último.

 

São eventos marcantes em minha história pessoal, e que interessam apenas a mim e a quem próximo, mas o interessante, e sempre fascinante, é perceber a passagem do tempo, olhar para trás e ver o(s) caminho(s) percorrido(s), o que foi alcançado, quem esteve comigo na jornada e não está mais, quem se juntou e caminha próximo, quem continua caminhando ao lado.

 

Celebro, sempre que posso, tudo o que vivemos e ainda vamos viver.


Até.

 

quarta-feira, setembro 10, 2025

Porque é Setembro

Eu gosto do mês de setembro.

 

Antes de mais nada, reconheço a futilidade de se ter preferência por meses do ano, porque a vida não muda por isso. Ou, o contrário, o fato de ‘não gostarmos’ de determinados dias da semana, por exemplo, pode ter efeito de perdermos o humor em parte do nosso tempo. O que obviamente é um desperdício de energia.

 

Assim como houve um tempo em que acreditei que os anos pares, terminados em zero, dois, quatro, seis e oito, fossem melhores que os anos terminados em números ímpares. Provavelmente uma crença baseada em acontecimentos bons ocorridos nesses anos que me marcaram, um esquecimento de eventos que não foram bons nesses mesmos anos, e em uma amnésia seletiva para fatos legais em anos ímpares. 

 

O que obviamente não faz nenhum sentido.

 

Como outras crenças que temos por aí, baseadas em pensamento mágico, em ilusões que criamos para nós mesmos, talvez para lidar com fenômenos que não entendemos, não sei. Como – num extremo – se faziam sacrifícios humanos para que as colheitas fossem fartas, sei lá. O fato é estamos rodeados de crenças e superstições, que, como falei, algumas vezes criamos para nós mesmos, para lidarmos com a realidade.

 

Falava eu, então, que simpatizo com setembro.

 

Os dias vão ficando mais longos, as temperaturas mais amenas, os dias de sol devem voltar a predominar e a umidade diminuir. A primavera vai chegar e as pessoas começam a ficar mais leves, menos circunspectas.

 

Pensamento mágico ou não, é quando os sábados de manhã se tornam ainda melhores.


Até. 

terça-feira, setembro 09, 2025

Dormir Cedo

Ontem, ao olhar no espelho, lembrei do meu pai.

 

Pouco depois das nove e meia da noite, já de pijama, enquanto escovava os dentes para ir para a cama, lembrei dele. Não pelo que vi no espelho, mas por lembrar que ele – em determinado momento – também ia cedo para a cama para assistir televisão antes de dormir.

 

Eu tenho achado o máximo, nesse inverno, ir progressivamente mais cedo para a cama para dormir. Como há anos, em prol da higiene do sono, não temos televisão no quarto, tenho usado esse período entre me deitar e pegar no sono para ler. Como efeito colateral, tenho acordado às 5h30 como se fosse a hora de iniciar o dia. Aí viro para lado e durmo mais um pouco, até o momento ‘correto’ dos dias. O que é bem legal, em minha opinião. Durmo mais tempo e o sono é de melhor qualidade.

 

Estaria eu ficando velho?

 

Estou, estamos.

 

Mas não é dormir cedo o que determina o meu envelhecer, claro.  O que tenho feito, na verdade, é aproveitar os dias em que posso dormir mais cedo para fazer isso, porque obviamente há dias em que não vou fazê-lo. E o inverno é propício ao dormir mais. No verão é diferente... 

 

Tenho de aproveitar os dias frios e de chuva.


Até.    

segunda-feira, setembro 08, 2025

Eu, brinco?

Quando passei no vestibular, no início de 1989, decidi que era o momento certo para – já que eu começaria uma fase nova, conheceria pessoas novas – furar a orelha e colocar um brinco. Era uma vontade que eu tinha, achava legal, e assim o fiz. Fui em uma farmácia, tive a orelha furada e colocado um brinco.

 

Foi uma merda.

 

Houve um grande reação inflamatória, que se seguiu de infecção, minha orelha ficou ainda maior do que era, inchou, o brinco praticamente desapareceu dentro da orelha em meio à inflamação. Acabei tirando, e iniciei a faculdade sem usar brinco. Fiquei assim pelos próximos onze anos quando, já casado, logo antes de uma viagem, decidimos, a Jacque e eu, furar minha orelha novamente. Ela fez em casa, utilizando-se do furo que já existia para reabrir, e fomos viajar.

 

Inflamou de novo. Em plena viagem.

 

Chegando na Itália, compramos um produto antisséptico, Germo Zero, e segui, até cicatrizar e normalizar. Funcionou, e a partir daí – há vinte cinco anos - uso brinco na orelha esquerda. Sempre nas férias, o que virou uma marca nossa: ao entrar de férias, principalmente quando íamos viajar, eu colocava o brinco.

 

Houve um momento, então, já em 2022, quando – ainda em meio à pandemia – tiramos férias, a Jacque, a Marina, a Karina, a Roberta, o Gabriel e eu e fomos de carro para o Uruguai, os seis no mesmo carro. Foi muito legal, e essa viagem está contada no que talvez possa virar um livro um dia desses. 

 

Talvez por ser depois de um período de isolamento e em meio à tensão que foi a pandemia, ao longo das férias fui relaxando progressivamente, sendo tomado por leveza e grande diversão. Não lembro de muitos outros momentos assim, de tamanhas leveza e diversão.

 

E eu usava brinco.

 

Associou-se, então, o usar brinco com um lado meu mais relaxado, mais tranquilo, mais leve. Seriam dois Marcelos: o de brinco e o sem brinco, sendo o último mais mal-humorado e meio ranzinza. Não é verdade, mas é uma história – ao menos – engraçada. 

 

Pois bem, hoje em dia, além de nas férias, uso brinco aos finais de semana também.

 

E procuro ser sempre, ou cada vez mais, o ‘Marcelo de brinco’.


Até. 

domingo, setembro 07, 2025

A Sopa

Eu acordo cedo.

 

Sempre, desde os meus dezoito anos, mais ou menos. Independente da hora em que vou dormir, independente do quão cansado eu esteja. Acordo e pronto, começo o dia.

 

Lembro dos verões de quase dois meses no litoral norte do Rio Grande do Sul, nos tempos de estudante, quando passei a acordar cedo todos os dias e, por ser o único da turma a fazer isso, acabava indo caminhar e depois jogar vôlei na praia antes de encontrar os amigos. O futebol, esse era no final da tarde. Compensava o despertar cedo com o sono de depois do almoço.

 

Ao longo do tempo, mantive a rotina do despertar cedo mesmo sem alarme despertador. Aos finais de semana, quando em tese poderia dormir até mais tarde, aí é que eu acordava/acordo cedo, talvez para aproveitar mais o dia. 

 

A prática de exercícios logo cedo da manhã sempre me agradou. Por um tempo, praticamente um ano inteiro, eu ia nadar de manhã, entrando na piscina pouco antes das seis da manhã. Tive a fase de sair de casa em dias úteis às seis e meia caminhando como aquecimento para ‘abrir’ a academia às sete horas, além de pedalar aos finais de semana por esse horário, quando o movimento nas ruas é menor e mesmo pedalando duas horas, chegava em casa e ainda tinha boa parte da manhã e o resto do sábado livres. A sensação do dever cumprido é muito boa.

 

Não tenho conseguido, nos últimos tempos.

 

Ainda acordo cedo, como antes, mas não tenho sido tão frequente nessa atividade física matinal. Esse ano, em especial, o inverno, o tempo lá fora, tem me deixado mais receoso, mais quieto. Algumas dores temporárias aqui e ali também limitam vez que outra. Só que sinto falta.

 

Setembro já avança, esperamos que a época de temperaturas mais amenas se consolide e que as chuvas seja poucas. Enquanto isso, e enquanto o joelho não está 100%, o acordar cedo é dedicado a escrever, ao chimarrão e aproveito para praticar destreza em acordes e escalas musicais.

 

Até.

sábado, setembro 06, 2025

sexta-feira, setembro 05, 2025

A Parede da Memória

A ideia de a memória ser como uma grande galeria de quadros retratando os fatos vividos/passados me soa muito interessante. A inspiração dessa imagem vem da letra de ‘Como Nossos Pais’ composta por Belchior e eternizada na voz dele mesmo e na da Elis Regina. Diz assim: “Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais...”.

 

A parede da memória, ou a galeria, ou museu, onde estaria exposto tudo o que vivemos, tudo pelo que passamos. Lugares, fatos, pessoas. Momentos de alta e de baixa. Euforia e – digamos – vergonha. Aqueles momentos inesquecíveis, como a fração de segundo que antecipou o primeiro beijo, mas também aquele comentário infeliz que fizemos em alguma situação e que nos deixou constrangidos, com vontade de sumir. E seria uma parede em constante expansão, onde quase que diariamente acrescentaríamos novos quadros, novas obras. 

 

O que ficará para a nossa posteridade pessoal, íntima? Como são definidos os fatos que estarão nessa parede, nesse nosso museu próprio? O quê e quando esqueceremos aquilo que nos era importante (o tema esquecimento é recorrente comigo, sim)? Não tenho essas respostas. Por isso sigo, criando memórias.

 

Também é, de certa forma, a razão pelo qual tenho publicado na Instagram uma foto por dia (a ideia é que seja por um ano), e que use isso para expor quadros (lembranças) de tempos idos e pessoas, idas ou não. Para lembrar e, sim, mostrar o respeito que tenho pela minha (nossa) história.


Até. 

quinta-feira, setembro 04, 2025

Chove Lá Fora

O silêncio não é total.

 

Mesmo que não haja música tocando no carro em que faço o trajeto habitual das manhãs de quinta-feira em direção ao trabalho, e mesmo que eu abstraia o ruido da chuva que cai constante e regularmente desde a madrugada, ainda assim, e talvez exatamente por isso, não consigo vislumbrar o silêncio total. A paz do silêncio relativo tem que ser suficiente.

 

Enquanto não há música e nem notícias e nem comentários preenchendo o carro, fico cá com meus botões em um ciclo de pensamentos que variam entre a expectativa da realização de projetos, lembranças de fatos e pessoas que estão ou não por perto, e a organização mental das atividades do dia. Não há silêncio porque o mundo segue com seus ruídos externos que por vezes são menos intensos que os internos.

 

Porém chove, e a água que se acumula nos cantos das ruas, o bater intermitente das gotas no vidro do carro, o cinza de uma manhã de quinta-feira que já é quase sexta e que logo será sábado de manhã, o melhor momento da semana, mesmo que esteja frio e não haja previsão de sol. 

 

O silêncio relativo que hoje é úmido será quebrado pelo café passado quente e por conversas amenas das manhãs entre amigos antes de iniciar o longo dia de trabalho que terminará – adivinhe – com um churrasco e (mais) conversas e bobagens e histórias.

 

Até. 

quarta-feira, setembro 03, 2025

As Minhas Unhas e o Tempo

Estamos sempre aprendendo, constantemente percebendo fatos e situações que anteriormente passavam despercebidas. Muitas delas, sim, nos facilitam a vida e, mesmo assim, leva tempo para as reconhecermos.

 

Como cortar as unhas usando óculos para leitura.

 

Eu sei que minha higiene pessoal não é de interesse de ninguém além de mim, exceto as pessoas que convivem próximas e que podem sofrer os efeitos de algum potencial desleixo meu nesse quesito. De qualquer forma, achei interessante comentar que aprendi, ou constatei, que é muito, mas muito melhor que eu corte as minhas unhas, ou excute outras atividade que requeiram reconhecer detalhes, fazendo o uso de óculos. Facilita a vida, mas pode ser visto como uma limitação que a idade traz, junto com a dificuldade em ler cardápios em locais de pouca luz, por exemplo. Lembro, então, que o passar do tempo, o avançar dos anos, traz limitações as quais temos que aceitar, aprender a viver com elas, e fazer o melhor possível dessas situações. 

 

Parei de jogar futebol há alguns anos.

 

Houve um período em que jogava uma ou duas vezes por semana, fazia parte de um grupo (detalhe sempre importante para mim), e era um momento também de conexões. As questões físicas foram lentamente se impondo sobre minha vontade e, por dores e lesões, me vi obrigado a parar com esse tipo de atividade. A última vez, a definitiva, foi em um momento em que estava em ótima forma física, fazendo musculação várias vezes por semana e ainda pedalando aos finais de semana. Mesmo assim, com vinte minutos de jogo, comecei com uma dor lombar que fez abandonar o jogo e que se revelaria três meses depois de idas e vindas com ela, em maior ou menor intensidade, uma hérnia de disco lombar que foi resolvida cirurgicamente meio que de emergência. A partir desse evento, entendi que futebol não era mais para mim.

 

E é assim em várias dimensões da vida.

 

O tempo traz limitações físicas, os olhos têm dificuldades em enxergar, não ouvimos tão bem quanto antes (digo que o meu objetivo é precisar usar aparelho auditivo só para desligá-lo) e não adianta ir contra, não podemos “bater de frente” com a natureza, com a passagem do tempo. Quanto mais tempo levamos para aceitá-las, pior para nós. 

 

Por outro lado, o tempo traz outras vantagens, como a sabedoria de entendermos o que realmente importa e priorizarmos aqueles que são de fé, que tornam a vida significativa. E de quem devemos estar perto.


Até.