A pandemia do COVID.
Há cinco anos era pandemia, estávamos há seis meses entre isolamento e distanciamento, e sem perspectiva de final. Vinha pensando nesse tema por esses dias, enquanto circulava por Porto Alegre. Parece que foi em outra vida, em outra existência. E são apenas cinco anos.
O tempo, olhado em retrospectiva, passa muito rápido.
Aprendi, ou percebi, essa verdade quando me mudei para o Canadá há – vejam só – vinte e um anos. Após longos três meses lá, sozinho, meio acampado e focado em terminar de escrever minha tese de doutorado, vim ao Brasil para defendê-la. Ao chegar, foi como se eu nunca tivesse saído, como se eu nunca tivesse ficado longe. E o mesmo aconteceu quando voltei a morar no Brasil, depois de dois anos.
É a relatividade da percepção do tempo.
Não a relatividade de Einstein, mas a relatividade subjetiva, psicológica, digamos, da passagem tempo. A percepção de que o tempo passa mais rápido ou devagar dependendo de eventos memoráveis, que saem da rotina. Como quando viajamos, em que o tempo parece se alongar enquanto vivemos essas experiências diferentes em contraste com quem segue sua rotina que passa sem percebermos.
Emendo, então, um assunto em outro, e lembro que viver a mesma rotina (burocrática?) todos os dias faz os eventos que vivemos tornarem-se menos memoráveis, porque acabamos por processar informações com menos detalhes, e aumenta a sensação da passagem mais rápida do tempo. Penso nisso há muitos anos, confesso.
Essa era (mais) uma das dúvidas que eu tinha quando estava para escolher qual rumo profissional eu seguiria. A medicina me parecia, à época, um caminho mais “seguro” que outros, mas que resultaria em um linha de vida mais ou menos previsível, como se – ao decidir ser médico – eu tivesse como saber como seria minha vida até o final. E que se escolhesse assim, eu fecharia a porta para outras possibilidades, seria um caminho exclusivo.
Optei pelo caminho da medicina não pela previsibilidade da vida dali em diante, mas porque vislumbrava que poderia – talvez, quem sabe – ainda assim escrever, uma das minhas paixões, porque havia exemplos diversos que poderiam servir de inspiração. Com dezesseis anos, achava que sabia muito, como deve ser com os jovens se aproximando da vida adulta. Achava – e estava enganado – que minha decisões naquele momento eram definitivas, e que, ao entrar por uma porta, eu fechava as outras e abdicava de outras possíveis vidas.
Aprendi que não, e procuro ensinar isso à Marina.
Até.