sexta-feira, setembro 26, 2025

Histórias de Consutório (5)

Manhã de consultório.

 

Durante os atendimentos de uma quinta-feira qualquer, entre pacientes com queixas diversas e crônicas, atendo um homem mais ou menos da minha idade e, preenchendo o prontuário eletrônico no meu notebook, descrevo detalhes do caso que envolvia alterações do sono - privação e pernas inquietas - que o deixavam com sonolência excessiva no dia seguinte. Para descartar outras condições, descrevo também situações que ele nega possuir. Como histórico de alergia, ou atopia.

 

Escrevo, digitando rápido, ‘Nega utopias”. 

 

Ao perceber o que havia escrito, rapidamente fotografei a tela do computador e, em meio à consulta, apesar de corrigir a digitação equivocada, não pude evitar de evoluir no pensamento a partir da negação (involuntária, imaginária) das utopias pelo paciente. Houve um momento de (virtual) desânimo. Que triste isso, de não possuir utopias, ou negá-las. 

 

A vida em preto e branco. Ou não.

 

Utopia, definida como lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos; ou qualquer descrição imaginativa de uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade. O não-lugar, o lugar que não existe.

 

O seu oposto, a Distopia seria lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação. Tudo se complica porque aquilo que é utopia para alguém pode, para outro, ser distopia. Complicado, confuso, como somos nós seres humanos.

 

Como seria a vida sem os sonhos e planos que, na prática, podem ser difíceis ou impossíveis de alcançar, mas que servem para inspirar um futuro melhor?

 

Como falei, triste. Em preto e branco. 


Até.